quinta-feira, 14 de abril de 2016

Cruel!



Mauro Pandolfi

Futebol é um teatro de grama e paixão.  A frase não é somente uma saída poética.  É mais intensa. Tenta ser profunda.  Entender os sentimentos que envolve a bola. Descobrir os dilemas existências de um lance. A derrota tem a dramaticidade de 'uma tragédia grega' moderna. Devasta, aniquila, destrói, arrasa. Foi o que ocorreu com o  Barcelona. Ao perder para o Atlético de Madri sumiu a aura de super time, de esquadrão, do guardião da arte de jogar futebol. Tornou-se um comum, um qualquer, um engano. Uma glória que já passou.
A mitológica equipe catalã foi desconstruída, demolida, destroçada pelos 'especialistas' em futebol. Críticas a péssima atuação, as derrotas sucessivas, ao jogo perdido. Li porradas na internet. Mas, nada me chamou mais atenção ao que disse um comentarista paulista. Insone, de madrugada, rádio ligado, escuto o 'analista' detonando o trio MSN. "Acabou o trio Messi, Suarez e Neymar. Acabou este futebolzinho xarope, sem fúria. Venceu um time de macho, como os velhos times". Ao escutar isto, desliguei o rádio e tentei dormir. Acordei com frase na cabeça. É o delírio, o devaneio, a comoção que o teatro de grama e paixão desperta.
Adoro o Barcelona e seu jogo. Me encanto com as triangulações, as movimentações, a paciência. Admiro o ritmo que Iniesta impõe ao jogo. É o meu estilo favorito de futebol. O Atlético foi gigante, enérgico, tático. Encaixotou o Barcelona. Tirou o espaço de Iniesta, cercou o trio MSN, deixou o jogo com os laterais e venceu. O futebol tem tantos olhares, conceitos, maneiras de ver, ouvir, sentir, que o torna espetacular, mágico, fantástico. Não há um pensamento único, hegemônico, homogêneo. Futebol, escola, universidade, que tem pensamento único não gera consciência crítica. Produz milicianos fundamentalistas, robotizados e agressivos. É  a diversidade, a pluralidade,  que mantém a criatividade, a civilidade e o talento.
O futebol, como a vida, tem a crueldade como um sintoma preferido. Venera ídolos, cria mitos, façanhas, heróis. No entanto, a destruição é mortal, mais rápida, mais cínica, mais prazerosa. Messi, Suarez e Neymar, há menos de dois meses, eram o que de melhor o futebol produziu. Arte e gols. O tridente da história! Três derrotas seguidas, nenhum gol, eliminação da Liga dos Campeões, tornou o trio uma espécie de Três Patetas. Um é cai-cai, piscineiro; outro, é igual ao André Lima, como disse certa vez um comentarista dos debates da uma hora; e o terceiro, um herege que deseja  entrar na corte do Rei Pelé. O futebol é como a vida e a imprensa esportiva: gostam dos vencedores ...  da última rodada. Só os fracos e os poetas amam os derrotados! E, como gritava um antigo narrador: Cruel!! A vida é muito cruel!

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