Mauro Pandolfi
Futebol
é um teatro de grama e paixão. A frase não é somente uma saída
poética. É mais intensa. Tenta ser profunda. Entender os sentimentos
que envolve a bola. Descobrir os dilemas existências de um lance. A
derrota tem a dramaticidade de 'uma tragédia grega' moderna. Devasta,
aniquila, destrói, arrasa. Foi o que ocorreu com o Barcelona. Ao perder
para o Atlético de Madri sumiu a aura de super time, de esquadrão, do
guardião da arte de jogar futebol. Tornou-se um comum, um qualquer, um
engano. Uma glória que já passou.
A mitológica equipe catalã foi desconstruída, demolida, destroçada
pelos 'especialistas' em futebol. Críticas a péssima atuação, as
derrotas sucessivas, ao jogo perdido. Li porradas na internet. Mas, nada
me chamou mais atenção ao que disse um comentarista paulista. Insone,
de madrugada, rádio ligado, escuto o 'analista' detonando o trio MSN.
"Acabou o trio Messi, Suarez e Neymar. Acabou este futebolzinho xarope,
sem fúria. Venceu um time de macho, como os velhos times". Ao escutar
isto, desliguei o rádio e tentei dormir. Acordei com frase na cabeça. É o
delírio, o devaneio, a comoção que o teatro de grama e paixão desperta.
Adoro
o Barcelona e seu jogo. Me encanto com as triangulações, as
movimentações, a paciência. Admiro o ritmo que Iniesta impõe ao jogo. É o
meu estilo favorito de futebol. O Atlético foi gigante, enérgico,
tático. Encaixotou o Barcelona. Tirou o espaço de Iniesta, cercou o trio
MSN, deixou o jogo com os laterais e venceu. O futebol tem tantos
olhares, conceitos, maneiras de ver, ouvir, sentir, que o torna
espetacular, mágico, fantástico. Não há um pensamento único, hegemônico,
homogêneo. Futebol, escola, universidade, que tem pensamento único não
gera consciência crítica. Produz milicianos fundamentalistas,
robotizados e agressivos. É a diversidade, a pluralidade, que mantém a
criatividade, a civilidade e o talento.
O
futebol, como a vida, tem a crueldade como um sintoma preferido. Venera
ídolos, cria mitos, façanhas, heróis. No entanto, a destruição é
mortal, mais rápida, mais cínica, mais prazerosa. Messi, Suarez e
Neymar, há menos de dois meses, eram o que de melhor o futebol produziu.
Arte e gols. O tridente da história! Três derrotas seguidas, nenhum
gol, eliminação da Liga dos Campeões, tornou o trio uma espécie de Três
Patetas. Um é cai-cai, piscineiro; outro, é igual ao André Lima, como
disse certa vez um comentarista dos debates da uma hora; e o terceiro,
um herege que deseja entrar na corte do Rei Pelé. O futebol é como a
vida e a imprensa esportiva: gostam dos vencedores ... da última
rodada. Só os fracos e os poetas amam os derrotados! E, como gritava um
antigo narrador: Cruel!! A vida é muito cruel!
Nenhum comentário:
Postar um comentário