segunda-feira, 4 de abril de 2016

O último moleque



Mauro Pandolfi

Foi como um cometa. Passou rápido, muito rápido, ligeiro demais. Deixou rastro que visualizo no youtube em dias de saudade. Gostava da corrida abusada, louca escapada por entre pernas desavisadas. Do drible oblíquo, que deixava os adversários deitados. A meia-lua, o mais belo dos dribles, uma negação de que a reta é o caminho mais curto para chegar a um outro ponto. Baila para um lado, vai pelo outro, como se fosse uma curva de Miró. O gol é só um complemento da obra de arte de Dener.  Um outsider. O último!. Sábado ele completaria 45 anos. A morte de Dener, em 19 de abril de 94, foi uma falta grave ao futebol. Dener foi o derradeiro representante do moleque de rua no árido profissionalismo da bola;
O nome Dener foi uma homenagem a Denner Pamplona. Um ousado, mordaz, crítico, estilista brasileiro. Criativo e irreverente, Denner assustou a  moral nos tempos da ditadura. Mesmo envergonhadas, as madames não resistiam a beleza das roupas de Denner. Só restava aos coronéis, comprar. Denner Pamplona morreu esquecido em 09 de novembro de 1978. O menino Dener, o craque que surgiu na Portuguesa, herdou o talento, a habilidade na costura de lances mágicos, que desafiavam a estratégias defensivas. Marca lá! Corta aqui! Fecha acolá! Sem espaço! Cuidado! Em zigue-zague, uma flecha, um raio, rápido, insinuante, entre os zagueiros... gol de Dener! 
O futebol é outro. O tempo é mais veloz que a luz e a vida. Anderson parecia ser um novo Dener. O moleque, herói dos Aflitos, perdeu o jeito 'sapeca' no Manchester United. Virou um volante moderno. Ronaldinho Gaúcho sempre se diferenciou de Dener. Tão hábil, tão genial. Mas, o profissionalismo sempre engoliu o menino. Há espaço para um Dener no jogo de hoje? Messi tem os momentos de um 'chico'. De bailar como se bailasse num campinho. Para, penso, procuro... e não vejo mais os moleques forjados nas ruas, na dureza, na inventividade! Azar do futebol!

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