Mauro Pandolfi
O medo! Estranho este sentimento! Há tipos de medo. O que congela, abate, apavora. Este medra! Há o que provoca a luta, a resistência, o enfrentamento, que gera heróis. Quem já teve este medo, dê um passo à frente? O Leicester desafiou os grandes, as certezas, a verdade. Não fugiu do combate. Encarou o medo com olhar altivo da certeza, da verdade, da virtude, de que o impossível é só uma dificuldade a mais. É quase campeão inglês. Falta pouco. Muito pouco. Quase nada. Além disso, desafiou os catedráticos, os sábios do futebol. Ser a negação do moderno ou ser a reinvenção da retranca? Eis a questão do dilema dos herdeiros de Shakespeare!
Defender é uma ofensa no futebol brasileiro. Todos querem atacar. Como estou à margem do pensar futebolístico tupiniquim, gosto de uma boa defesa. Aprecio as linhas em movimento, a compactação, a saída inteligente de um bom zagueiro. Morgan e Kanté me fazem acordam cedo, aos domingos, para ver o Leicester. Sóbrios, serenos, intensos e de uma precisão nos desarmes e nos passes. São o centro do time. Não é apenas isto. Neste ano, 10 de seus jogadores foram convocados para as seleções nacionais. O centroavante Vardy é a esperança de gols para Inglaterra na Eurocopa. Gordon Banks e Gary Lineker são os maiores mitos do clube, venerados por uma torcida fiel, apaixonada, perto de um grande sonho.
Cláudio Ranieri releu o 'catenaccio' no Leicester. A defesa não joga 'enterrada' na área. Fica adiantada, mais próxima do meio-campo. A segurança é a base da vitória. Depois, atacar. Aí, está a diferença de uma retranca . Não é pragmática, nem uma estratégia, como o 'catenaccio' tradicional. É um sistema tático. Os passes são medidos, as linhas se aproximam, a eficácia é total. Os chutões são raros, usados em emergência. Trabalha a bola. Trata a bola. Não é apegado a bola. Não tem obsessão por ela. Prefere controlar o jogo. É um time envolvente, ligeiro, que apresenta uma outra forma de jogar o futebol. Não se engane. Não é, como dizem os especialistas brasileiros, o anti Barcelona. É só um outro olhar do futebol.
"O Leicester é o Figueira inglês!". Frase dita, domingo de manhã, pelo meu irmão Márcio. Há um silêncio. Antes de comentar, ele arremata com uma pergunta: "Será que um dia, o Figueira será o Leicester brasileiro?" Volto no tempo, na noite que Aloísio perdeu um pênalti, no Maracanã, contra o Flamengo, e o jogo ficou no 0 a 0. Nas rodadas seguintes, o Figueira perdeu para o Corinthians e Fluminense e empatou o clássico. O Figueirense era o melhor time daquele brasileirão. . Rápido, insinuoso, atrevido. Mas, medrou. Faltou confiança, acreditar no impossível, na sua força. Duvidou do seu talento. Um dia, vai demorar - mas, o que é o tempo para os que sonham? -, chegará ao destino imaginado. Agora, torço para o Leicester não ser o Figueira e ser campeão. Depois, vou torcer para o Figueira pensar, acreditar que pode ser o Leicester.
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