segunda-feira, 27 de junho de 2016
Adios muchachos
Mauro Pandolfi
"Se você achar que estou derrotado. Saiba que ainda estão rolando os dados...Porque o tempo, o tempo não para!"
Torço para Messi não ouvir Gardel. Escute Cazuza, Lionel!
Deveria ser um tango. O drama, a angústia, o desespero pede um tango. Daqueles que o homem está sem chão, sem rumo, a mulher amada o abandonou. Cético, o homem perambula pela vida. Sem crença, inerte, solitário. Eu vi Messi assim após a última cobrança de pênalti do Chile. Abatido, arrancou a braçadeira de capitão, passou por todos como um fantasma, sem nenhum abraço, carinho, afago e sentou no banco. Uma solidão que o mundo inteiro viu. A dor estampada no olhar vazio. Por instantes, elevou o olhar para o longe. Procurava uma resposta a uma pergunta não feita. Olhou a lua, queria a explicação para mais um ' fracasso'. 'Por quê? Por quê?', pergunto eu aos deuses da bola. Tanta maldade, injustiça com quem pratica a arte de encantar? Será este o grande fascínio do teatro de grama e paixão? Não sei! Acho só cruel!
Assisto muito futebol. Leio, escrevo, palpito. Cada vez entendo menos. Já suspirei pelo lúdico. A arte em dribles, passes, gols. Me enganei. Percebi que é um jogo matemático, planejado, arquitetado. Partidas me desmentem. Flutei entre a paixão e razão. Coisa que nem a alma decifra. Futebol é mental. Controle, concentração, poder mental. Um jogo de confiança. Messi é frágil com a camisa celeste e branca. Falta a fúria, o olhar cirúrgico, o mortal. Ele é pouco menos que genial com ela. Falta a certeza do Barcelona. Só há dúvida latina. Não há a majestosa confiança de Iniesta. Só a incerteza de Higuain. Desolado, Messi disse adeus. "Tentei, não consegui. Terminou!" Quem sabe a Argentina encontre um 'conjunto' de medianos, lutadores e se transforme num Chile. O fim da era Messi é uma derrota do futebol. Um descuido, uma brincadeira, uma galhofa dos deuses da bola.
Assisti a partida por Messi. Vibrei com lances mágicos. Sofri pela marcação dura. Às vezes, desleal. Torci pelos chutes que não deu. Os dribles no lado do campo. Suspirei pela louca escapada pelo lado do campo. Não veio. O Chile ocupava os espaços. Um time forte, compacto, confiante. Sabia o que queria. O tempo foi dramático para Messi. A bola pesando mais do que ausência de títulos em seus ombros. A bola levantada, tocada por Aguero, me fez gritar gol. Bravo, espetacular, não me ouviu. O jogo termina. O sofrimento, começa.
Os pênaltis. A crueldade bem descrita por Chiko Kuneski. As câmeras vigiam seus passos, seu olhar. Conseguem captar a a incerteza, a dúvida, o medo. Suspirei quando Vidal perdeu. Vi Messi confiante. É, agora! A Argentina vai reconhecer que é, no mínimo, do tamanho de Maradona. Eu acho superior. A passada foi lenta. O chute longe, distante, quase atravessou o planeta bola. O desespero. Desliguei a tevê. Senti a mesma dor que ele. Marquei o tempo. Errei o cálculo. Vi a última batida. O título, a festa, a solidão de Messi.
Insone, escrevi o texto de madrugada. Fiquei com pena de Messi. Poderia ter se naturalizado espanhol. Seria o maior vencedor da história. Mas, preferiu continuar 'hermano'. Pensei em Alberto, meu grande amigo argentino, torcedor do River, amante do futebol. Na sua tristeza. Mas, ao escutar no rádio o adeus de Messi, ouvi um narrador apoplético berrar: 'é um desertor!'. Só me restou um chavão: não choro por ti, Argentina. Choro por Messi. Choro pelo futebol.
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