Chiko Kuneski
Comecei meu sábado,
detesto iniciar texto com verbo, mas cabe, às 10 horas ligando o tubo de LED
para ver Polônia e Suíça. Eurocopa me encanta pelos talentos individuais e
pelo futebol reinventado. O jogo, como qualquer partida do mata-mata, truncado,
fechado, marcado. Jogo decisivo. A decisão nem sempre é solta.
Empate, de um a um no
tempo normal e na prorrogação. Comecei meu sábado pensando que o futebol tem
regras cruéis. Decisão por pênaltis. Deveria ir à exaustão e terminar com bola
rolando. O pênalti é o oposto do futebol, decidido com a bola parada numa marca
estática. Um mero jogo de dados redondos. O acaso. O futebol fugindo dos
esquemas táticos, dos treinos, dos passes dos gênios, dos dribles dos craques.
Um acaso determina o
final do drama. A mão dos deuses do futebol brincando com as cordas das
marionetes terrenas. Basta uma gota de suor, às vezes nervoso, no olhar fixo do
batedor, que nubla o retângulo. Uma trava solta na chuteira que desvia para a
trave. Um milímetro de ponta de luva do goleiro. São decisivos.
A decisão por pênaltis
é cruel com todos. Com o jogador que bate, com o goleiro que tenta defender a
meta, com a torcida que palpita na taquicardia da angustia, entre a emoção do
grito de gol ou a decepção. São metros quilométricos que separam a inércia. Do
goleiro sobre a linha de fundo, do gol. Do batedor sobre a linha da grande
área. Do torcedor sobre o fio da navalha.
Entre o apito do juiz até
a batida na bola e da bola o tempo fica
atemporal. Adversários vendo o jogo em câmara lenta. Quadro a quadro. Montando um
quebra cabeças para a decisão final. Goleiro e batedor. O torcedor cataléptico
de olhar esbugalhado. Um grande acaso separando o jogo. Segundos eternos que
talvez virem anos atormentando os atores do teatro de grama.
PS – Teatro de grama é
a definição perfeita do futebol de Mauro Pandolfi
Nenhum comentário:
Postar um comentário