sábado, 25 de junho de 2016

Segundos eternos

Chiko Kuneski

Comecei meu sábado, detesto iniciar texto com verbo, mas cabe, às 10 horas ligando o tubo de LED para ver Polônia e Suíça. Eurocopa me encanta pelos talentos individuais e pelo futebol reinventado. O jogo, como qualquer partida do mata-mata, truncado, fechado, marcado. Jogo decisivo. A decisão nem sempre é solta.

Empate, de um a um no tempo normal e na prorrogação. Comecei meu sábado pensando que o futebol tem regras cruéis. Decisão por pênaltis. Deveria ir à exaustão e terminar com bola rolando. O pênalti é o oposto do futebol, decidido com a bola parada numa marca estática. Um mero jogo de dados redondos. O acaso. O futebol fugindo dos esquemas táticos, dos treinos, dos passes dos gênios, dos dribles dos craques.

Um acaso determina o final do drama. A mão dos deuses do futebol brincando com as cordas das marionetes terrenas. Basta uma gota de suor, às vezes nervoso, no olhar fixo do batedor, que nubla o retângulo. Uma trava solta na chuteira que desvia para a trave. Um milímetro de ponta de luva do goleiro. São decisivos.

A decisão por pênaltis é cruel com todos. Com o jogador que bate, com o goleiro que tenta defender a meta, com a torcida que palpita na taquicardia da angustia, entre a emoção do grito de gol ou a decepção. São metros quilométricos que separam a inércia. Do goleiro sobre a linha de fundo, do gol. Do batedor sobre a linha da grande área. Do torcedor sobre o fio da navalha.

Entre o apito do juiz até a batida na bola e da bola  o tempo fica atemporal. Adversários vendo o jogo em câmara lenta. Quadro a quadro. Montando um quebra cabeças para a decisão final. Goleiro e batedor. O torcedor cataléptico de olhar esbugalhado. Um grande acaso separando o jogo. Segundos eternos que talvez virem anos atormentando os atores do teatro de grama.

PS – Teatro de grama é a definição perfeita do futebol de Mauro Pandolfi

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