sexta-feira, 1 de julho de 2016

Ainda Messi...

Mauro Pandolfi



Só uma cena do futebol. Emblemática.  Alegórica.  Messi cercado por chilenos. Nove. Cinco tentam impedir a jogada. Quatro, observam. Solitário, Messi protege a bola. Uma fuga ou o drible? Parece preso. Não há saída.  Não há um outro argentino na foto.  Sem apoio. Ou, desafogo. Só há Messi. O Chile é um todo. Seguem o lema dos mosqueteiros. Eram, quase, todos contra um. A foto explica a vitória chilena. A força, o conjunto, a determinação.  Também, revela o fracasso argentino. Se há Messi, tem o salvador.  Ele é o guia. A vitória é apenas uma questão do tempo. Ele não pode falhar. Mas, teve um pênalti no meio do caminho...
Há histórias falsas no futebol. Lendas. Mitologias. Mais fantásticas que o real. Sobrevivem. São fantasias repetidas a exaustão.  Porém, não se transformam em verdades. Mentiras, nem sempre, sinceras. Nem um jogador ganhou uma copa sozinho. Um jogo, talvez. A competição, nunca. Nem Pelé, Garrincha, Romário ou Maradona fizeram a proeza. Eram a parte mais aguda, decisiva ou genial do time. Equipes bem estruturadas, organizadas, competitivas venceram as competições.  Não há graça numa história sem herói.  É fundamental um herói. Se não há um, inventa-se.  E, tantos foram inventados. Lances, gols  dribles, passes, vitorias supervalorizadas.  Apenas, marketing!  Marketing puro! Mesmo quando poucos conheciam a palavra.
O que se cultiva neste canto do mundo é um populismo ordinário.  Um salvacionismo perdido no tempo, no espaço e na história.  Vivemos, suspiramos, desejamos um salvador.  Alguém que venha nos redimir, orientar e guiar para o paraíso.  Geralmente, caímos na armadilha autoritária.  O futebol é um retrato colorido deste equívoco.  Messi tem a obrigação de dar um titulo a Argentina.  Ser maior que Maradona.  Só uma copa o eternizará como um deus. O time? Não interessa! Os parceiros? Pouco importa! Messi é o condutor. Cabe a ele liderar a conquista. Não há espaço para a derrota. Nem o bom jogo o absolve.  Na Argentina é assim. Messi não tem a dor de um tango de Gardel. Nem provocou choro como Evita. Perto do deus Maradona, é só um herege. Messi é apenas um 'estranho' com a camisa azul e blanca.
Detesto o nacionalismo. Não gosto de hinos. Não fico em posição de sentido. Não coloco a mão no peito.  Nem canto: 'sou brasileiro, com muito...' Não pergunto o que posso fazer pelo pais.  Nem me interessa o que ele faz por mim. Nenhuma pátria me pariu. Tento entender o que levou Messi a recusar a cidadania espanhola. Foi um menino para lá.  Os clubes argentinos recusaram pagar o tratamento para o crescimento do pequeno 'pulga' . O Barcelona bancou.  Messi escolheu o  caminho difícil. Trocou os títulos da Espanha, a companhia de Iniesta, a paixão de um povo. Preferiu o risco. Um país que não ganha nada, Higuian de parceiro, a cobrança e a dúvida de uma nação.  Acho que só o tango para explicar as escolhas de Messi. "Rechiflado em mi tristeza..."

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