domingo, 10 de julho de 2016

A lágrima do espelho

Chiko Kuneski

Sempre me questionei. O frio aço chora? Fisicamente não. Mas então porque o espelho insiste em mostrar a lágrima sentida do canto dos olhos? Até o espelho fica humano no drama. Frio, retrata a emoção. No mundo atual até o de plasma artificial. Nada contém a lágrima da derrota ou a da vitória. Chorar é humano.

O futebol é divino. Extra. Extraordinário. Seus deuses são incompreensíveis e querem continuar sendo. No mesmo jogo, o herói do campo e da tela sai abatido em maca. Que mais parecia um sarcófago. O enterro do sucumbido pelo corpo, pelo peso, pela truculência do próprio futebol. Sai vivo ainda, mas chorando o próprio destino.

Mais uma performance para as câmeras e o espelho de plasma dos estádios? Ou dor e real sofrimento de um herói abatido na batalha final? Isso apenas Cristiano Ronaldo sabe e saberá.

Mas suas lágrimas, expostas nos espelhos de plasma do estádio, reergueram a esquadra portuguesa. O capitão naufragou, mas a nau tem que vencer em seu nome. O Time português chorou junto com seu capitão, tirado de campo pela truculência da marcação no joelho já combalido. Não foi o acaso. Foi o determinado. Isso deve ter irritado ainda mais os deuses do futebol que gostam das batalhas mais justas.

Talvez as lágrimas de dor, físicas e humanas, de Cristiano Ronaldo tenham hidratado o brio lusitano. A nau seguiu sem seu comandante em campo, mas ele vibrava no banco. Torcia aponto de socar a coxa de um patrício num lance capital desperdiçado.  Mancava a beira do gramado em cada chute dentro dele. Sofria. Chorava. Era o espelho. Não o espelhado. Pela primeira vez. 

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