quinta-feira, 21 de julho de 2016

A tridimensionalidade do plano

Chiko Kuneski

O nada é um contexto surpreendente. Um grande vazio cheio de possibilidades. Um campo de futebol é um nada. Apenas grama cercada e demarcada. Um grande retângulo com outros quatro pequenos retângulos e dois círculos. Um simetricamente dividido e colocados no oposto. O campo é geométrico. Dimensional.

É o futebol que o torno vivo, tridimensional. Enche o nada. Movimenta as rígidas linhas. Torna maleável. Engana a ótica fazendo a esfera da bola ficar plana e o plano do campo parecer esférico, sem arestas, escorregadio ao olhar retilíneo.

O vazio ocupado pelas chuteiras molda o vazio da genialidade do passe achado no espaço não existente. É curvo. É obliquo. Certeiro. O passe é dimensionado em 3D. É rotativo. Mesmo reto é curvilíneo para ludibriar o olhar estático do marcador.

O vazio das linhas do campo fica ainda mais completo num só drible. Acha o vazio da existência antevista de espaço. Do meio das pernas. Do impensado. O drible antevê o vazio deixado e nele faz seu baile. Tira o espaço marcado para dançar. O drible compõe a música desconhecida.


O nada visto antes da entrada dos jogadores em campo vira o tudo no futebol. O passe; o drible. O drible; o passe. A tridimensionalidade do plano.

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