Chiko Kuneski
O nada é um contexto surpreendente.
Um grande vazio cheio de possibilidades. Um campo de futebol é um nada. Apenas
grama cercada e demarcada. Um grande retângulo com outros quatro pequenos retângulos
e dois círculos. Um simetricamente dividido e colocados no oposto. O campo é
geométrico. Dimensional.
É o futebol que o torno
vivo, tridimensional. Enche o nada. Movimenta as rígidas linhas. Torna maleável.
Engana a ótica fazendo a esfera da bola ficar plana e o plano do campo parecer
esférico, sem arestas, escorregadio ao olhar retilíneo.
O vazio ocupado pelas
chuteiras molda o vazio da genialidade do passe achado no espaço não existente.
É curvo. É obliquo. Certeiro. O passe é dimensionado em 3D. É rotativo. Mesmo reto
é curvilíneo para ludibriar o olhar estático do marcador.
O vazio das linhas do
campo fica ainda mais completo num só drible. Acha o vazio da existência
antevista de espaço. Do meio das pernas. Do impensado. O drible antevê o vazio
deixado e nele faz seu baile. Tira o espaço marcado para dançar. O drible compõe
a música desconhecida.
O nada visto antes da
entrada dos jogadores em campo vira o tudo no futebol. O passe; o drible. O
drible; o passe. A tridimensionalidade do plano.
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