"Por mais que eu reze não tem jeito. Este Tostão é mesmo infernal."
Dom Serafim Fernandes de Araújo, ex-bispo de Belo Horizonte, torcedor do Atlético Mineiro.
Mauro Pandolfi
'Olha
que coisa mais linda. Mais cheio de graça. É ele, o craque, que dribla e
passa num doce
balanço a caminho do gol'. Estraguei os belos versos de Tom Jobim
imaginando o fantástico jogo de Tostão que nunca sai do meu imaginário.
Dois gênios.
Brasileiros. Únicos. Lúdicos poetas que brincaram com os sons da
palavras cantadas nos estádios. Um produziu música. O outro, gols,
dribles. Um já virou lenda. O outro encanta pelos olhares lúcidos do
futebol. Tom Jobim faria 90 anos. Tostão continua se reinventando aos
70. Parabéns aos dois!
Tostão
é o craque da minha infância. 'Se eu fosse Pelé, tomava café. Se fosse
Tostão, tirava o calção'. A paródia de 'Criança feliz' cantada nos
recreios do colégio Flordoardo Cabral era o sinal de que o jogo iria
começar ou terminar. Campo improvisado. Tijolos como as traves. Acabava
no sinal ou na última chamada da Leda, a minha querida professora
daqueles tempos. Em casa, na imensa eletrola da sala, buscava os jogos
do Cruzeiro nas rádios mineiras. Adorava aquele time de Dirceu Lopes e
Tostão. Vi poucas vezes na tevê. Li muito nos jornais e na Placar. Tinha
um poster daquele timaço no espaço da mesa e das prateleiras da estante
do quarto. Poxa! Já tem quase cinquenta anos esta lembrança. O tempo
nunca passa. É só um engano. Este apito que tocou lá fora é o sinal?
Não! Era só o alarme de um carro que disparou.
"Tempos
vividos, sonhados e perdidos", o livro de Tostão, é pura poesia.
Encantamento pelo jogador maravilhoso e seus olhares. A ternura do
médico que nunca matou o craque, como se espalhou feito lenda pelo
Brasil. Tem a delicadeza do cronista. Um sábio que entende as mudanças
do jogo. Captura e decifra. Não se projeta, feitos os antigos craques
comentarista, na partida. Sabe que só é um analista. E, que analista!
Tostão não se perde na mitologia. Muitas vezes é só o dr Eduardo
Gonçalves de Andrade, sereno médico humanista. Não se considera um dos
maiores. Prefere Romário em seu lugar na Seleção de 70. Olha! Paro,
penso, reflito e suspiro: será que Clodoaldo não seria um ótimo
zagueiro?
Não
vou ver futebol hoje na tevê. Vou mergulhar na memória. Vasculhar o you
tube. Procurar o filme 'Tostão, a fera de ouro'. Ele revela o craque
que colocou o coletivo acima da vaidade. Sabia que time era mais
importante que o solitário jogador. Tostão inventava o momento,
imaginava o espaço a dribles e tabelas, criava a jogada não prevista e
não pensada e a transformava em gol. Talvez, reveja Brasil e
Inglaterra, da Copa de 70. Entender que a movimentação e o espaço vazio é
uma espécie de poesia. Ali há toda a beleza do futebol. A magia e o
encantamento. O futebol, nos dias de hoje, é promessa de vida no teu
coração.
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