quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Previsões



Mauro Pandolfi

Gosto de previsões. A ideia de adivinhações me encanta. O olhar do futuro é um desejo que me arrepia a alma e desperta a mente. Procurei na internet e o que vi não me satisfez. Quebrei a promessa e procurei Rai Carlos, o meu amigo vidente cego. Quando trabalhava no jornal fiz uma matéria com ele. Acertou tudo ao meu respeito e muito sobre o futebol e o país. Viramos amigos. Mas, ele impôs uma condição: nunca pedir previsões. Sempre respeitei. Curioso, ansioso, o procurei. Ficou bravo. Perdeu o humor. Irritou-se. Conversa vem, conversa vai, umas doses de gim e ele concordou. Fez questão de lembrar. "Previsões não são certezas. São possibilidades. O espectro solar e astral indicam o caminho. O livre arbítrio humano pode interferir, assim como o acaso. Não significa um engano. Significa que o dono do destino é a própria pessoa. Fez o passado, vive o presente e fará o futuro. Bom ou ruim? Depende dele".
A sala está escura. O cheiro de alfazema do incenso me incomoda. Acho estranho a música de fundo. Esperava uma música suave, new age e toca o heavy metal do Sepultura. "É o som deste tempo. Conturbado, agressivo, inspirador, ríspido, transformador", explica Rai. O assunto é futebol. Ele está concentrado. Sentado numa posição de Meia Lótus, balbucia um mantra. Repete e repete. Os olhos fechados. E começa.
"O ano tem o final sete. O campo astral é favorável a quem o sete como marca. Botafogo tem o mago Garrincha como mentor. Será um grande ano. Ganhará o Campeonato Carioca e chegará, no mínimo, nas quartas de final da Libertadores. No Brasileiro é um grande candidato. Já o Grêmio tem Renato no comando. O sete em grande momento solar. Ganhará dois ou três campeonatos.  O Gaúcho e, no astral não fica claro, se é o Brasileiro ou a Libertadores. Há risco nos dois clubes. O Botafogo terá que resistir as negociações de seus craques. O Grêmio precisa sobreviver a soberba de seu guru, Renato. Ele pode por tudo a perder", revela. Gostei da previsão.
Pergunto sobre os catarinenses. "A Chapecoense tem um astral espetacular. A tragédia gerou uma força que será transformadora. Vai ganhar o Catarinense, chegar às oitavas na Libertadores e brigará por título na Copa do Brasil ou Sul-Americana. O campo está limpo e lindo. A energia de todos é extraordinária. O Avaí será o grande adversário. Disputará a final do Catarinense com a Chapecoense. A estrela, a resistência do interminável Marquinho Santos, o El Cid, poderá mudar o resultado. Não vai ser rebaixado na série A. O Figueirense tem um campo astral nebuloso, escuro, dramático. Precisará de muita energia. Não sei se terá. Falta ao Figueirense alguém ligado ao clube, a sua história, a sua gente. Somente quando encontrar alguém assim, terá sucesso. O melhor momento do ano será o segundo semestre. A chance de subir é pequena. Mas, há. Joinville seguirá o seu destino: voltar de onde veio. Só uma grande sinergia, entre jogadores e torcida, poderá evitar novos vexames. Mais tranquilo é o Criciúma. Tem grande poder de luta, muita energia e imensas possibilidades de voltar à série A.  A surpresa será o Tubarão. Ficará entre os grandes. A decepção, meu caro Mauro, será o teu Inter. O astral é confuso, problemático e perigoso. Corre risco de queda. Mas, lembre-se, o livre arbítrio, a autonomia, as forças mentais podem modificar tudo". Está claro, Raí.
Pergunto dos outros clubes. "O Palmeiras tem a maior potência entre os clubes brasileiros. Pode ser o grande vencedor do ano. Porém, agregou forças negativas no elenco. Desagregadores. Se o jovem Eduardo Batista não souber lidar, perde o cargo e os títulos. Santos continuará o mesmo. Bons jogos, chance no Paulista e nenhum título de expressão. O karma dez é muito forte. Pelé está doente,. Os deuses do futebol, que amam o Santos, estão cuidando só dele. São Paulo será a grande novidade. Ousadia que resultará em bons desempenhos. Chances reais de títulos no Brasileiro e Copa do Brasil. Corinthians está em convulsão. Tem dois 7 em sua história. Em 77, saiu do inferno astral de 21 anos sem títulos. Pode ocorrer o mesmo agora pela força dos jovens. O problema é a diretoria que não gosta de jovens. O Brasileiro é mais complicado. No Paulista e na Copa do Brasil há chance de conquista. A energia dos mineiros é muito forte. Atlético tem o magnetismo de Roger. Ele será vencedor nesta temporada. O Cruzeiro tem em Arrascaeta o líder para a vitória. Os dois terão títulos".
Faltaram os cariocas. Rai garante o título estadual ao Botafogo. E o que acontecerá com Flamengo, Vasco e Fluminense? "O Vasco tem o signo da derrota, a energia negativa, o campo astral nebuloso que é Eurico Miranda. Será, outra vez, candidato ao rebaixamento. O Fluminense tem a soberba como visão histórica. Sempre usa um vencedor para as reconquistas. O espectro solar não é bom. Porém, Abel Braga tem uma energia magnética com o 'Papai do Céu'. O Flamengo mudou a sua rota. O astral recomenda os jovens, os meninos e o clube volta aos medalhões. Só os garotos darão título ao Flamengo. Zé Ricardo é jovem, Se apostar nos iguais a ele, vence. Caso contrário, decepções. O Internacional, para a nossa tristeza, voltará. Será uma batalha, nada comparada a dos Aflitos, traumática. Sofrida. E, se tornará muito frágil, um espectro do gigante que já foi", revela. Rai está cansado. |Não pergunto sobre os times do exterior, nem o Brasil nas eliminatórias. Faço uma última indagação;
E, a política? "2016 não terminará tão cedo. Aliás, estamos vivendo a sequência de 2013. Não entendemos o que foram as manifestações populares. Elas romperam o sistema, destruíram as organizações políticas, romperam as estruturas. Tudo que vivemos em política terminou. Só os políticos não perceberam. Perceberam, sim. Lutam desesperadamente para nada mudar. Teremos mais dois, no mínimo, presidentes até 2018. Na eleição, surpresa! Não é Bolsonaro! Deste traste, estamos livre. É alguém com muito respaldo da população. Será uma espécie de Nelson Mandela. Vai reconciliar o país. O nome não é muito claro. Não consigo ver o nome", explica. Pergunto sobre a Lava Jato. "Vão continuar tentando acabar com ela. A pressão popular vai impedir. Veremos muitos figurões enjaulados. Quase todos. Alguns escaparam", conta.
O transe está terminando e quero saber da economia. "Não precisa ser vidente, meu caro Mauro. Tudo continuará igual até 2018. As reformas são farsescas, nada mudará. Vamos sobrevivendo, cada vez com menos", diz ele. Melancólico, comento que nunca sairemos disto. "Vivemos uma espiral histórica. O passado nos prende no mesmo ponto de sempre. Aí, giramos numa espiral sem fim. Vamos e voltamos, como farsa ou realidade, não saímos do lugar. Parece eterno. Sugere eternidade. É só um engano. De tempos em tempos, há a transformações. O que vivemos é a última resistência a esta mudança. Ela virá. Forte, enérgica, necessária, revolucionária. O futuro será grandioso. Duvidas, Mauro?" Sou um cético saudável. Não creio em nada e acredito em tudo. Não discuto as previsões. São teses, são olhares, sensações, energias. E, como se fala por aqui: 'Se tu dix!..'

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