Chiko Kuneski
“Foi lá onde a coruja dorme!”
Talvez a mais ouvida
alegoria sonora no que se chamava “ondas do rádio”. A bola iludindo zagueiros
da barreira, goleiro astuto curvado às curvas do chute da chuteira inerte
segundos antes. Traiçoeiros. O segundo e o chute. O descritivo sonoro de um
momento que nunca se repetiria. A bola, a trave, a rede estufada, o grito de
gol ecoando garganta a fora. A coruja imaginária sobre o travessão acordada
pelo chute mágico roçando abaixo no couro com o aço.
Acordar a coruja na perfeição
de um chute é um poder dado apenas para os mágicos da bola. É metafísico. É excepcional.
Como se um globo de couro transformasse a atmosfera do globo do espaço da
Terra. Inumano. Impossível de ser contido. Vira meta-humano. A fantasia dos
games no real dos campos.
Esse é Lionel Messi. Um
mágico de infinitos truques que une os mundos, fazendo a fantasia, a ilusão, a
mágica virarem realidade. É o encantador da hora certa de tirar a coruja da
cartola, ou do ninho alegórico, onde dorme, e lhe dar as assas da mais pura
emoção de deixar locutores e torcedores roucos.
O jogo desfavorável. A derrota
amarga num gol de contra ataque. O time correndo atrás da bola. Os outros “craques”
sucumbindo a marcação implacável. Mas “a bola procura quem sabe”, outra máxima
futebolística, que prefiro definir como “quem sabe acha a bola”, cai nos seus
pés. Quatro marcadores. Implacáveis. Uma barreira humana. Nunca para o mágico.
Bola entre os pés. Escondida.
Subtraída pela ilusão da velocidade. Corpo esguio. Olhar atento na plateia. O engano
do drible. Somente parado com a força do real que não entende os mistérios
mágicos do futebol. A queda cenográfica para aumentar o encantamento dos
espectadores. A falta buscada para fazer a mágica.
A bola e a meta. O cenário
perfeito para o mágico e sua magia. A Ilusão da barreira. A ilusão do goleiro. A
ilusão do impossível. Da coruja imaginária alçando asas sobre sua cabeça em direção
do centro do campo guiadas por seus braços esfuziantes.
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