Mauro Pandolfi
Iniesta e a bola. O pensador analisa o lance. Observa
a armada francesa (seriam os mosqueteiros?). Procura os parceiros. Estão
cercados pela marcação firme. Avança. Vai levando. Ilude um, engana outro,
corre com a bola, passa por mais um. Nota que Neymar escapa. Olhar atilado de
Iniesta. A bola precisa, correta, certa, perfeita. Neymar, o goleiro e o
gol. Asas da chuteira, a imagem de Chiko Kuneski, o drible, a festa, o orgasmo.
O drible é o futebol. Neymar foi o que sempre é: o menino que tem o cérebro em
curva como um drible. Um gênio que faz do atávico lance um poema da bola.
Bola recuperada. Está no pé
de Rafinha. O toque encontra Thiago Alcântara. O campo é uma área densamente
povoada. Ele olha a movimentação de Lahm. Passe longo, certeiro, mágico.
Bola calculada. O cérebro fica no pé? Lahm a deixa quicar no gramado. Tempo
suficiente para procurar os camaradas. Percebe Muller. Lá vai a bola. Reta,
concreta, fácil. Muller dá uma leve carícia na pelota em direção ao meio
da área. Quem está lá é Lewandowski. A cabeçada mortal balança o
véu de noiva. Um gol matemático. Engana a geometria. Um triângulo pode
ter quatro lados? Um lance que namora a diagonal invisível. O futebol agradece
ao passe. Esta linha paralela da paixão. Este gol é um poema em prosa.
Ah, o futebol! Como é mágico este jogo. É jogado, pensado,
sonhado, delirado. Se Iniesta não fosse o mestre do passe como terminaria o
lance? Quem sabe driblaria, driblaria, driblaria até perder a bola ou entregaria
enforcada para o companheiro? Pode ser! Se Lahm segurasse a bola, esperasse o
adversário chegar para o drible. O que aconteceria? Seria desarmado ou o
cruzamento pegaria defesa já recomposta? Não tenho bola de cristal para saber.
Ainda bem que o 'se' joga só imaginário.
Chiko adora o drible, vê o lance com os olhos rimados de
poesia. Eu sou fã do Chiko! Gosto de quem venera a individualidade. Ele percebe
o drible como uma desobediência civil, uma negação da ordem do sistema, de
todos os sistemas. Os poetas são assim.
Como não sou poeta, sou apenas um observador da vida, um cético saudável,
duvido e acredito em tudo. Então, o drible pode ser uma rima. Às vezes,
solução. Longa vida ao drible! Longa vida ao passe! Viva o futebol! Que ele
seja eterno enquanto fantástico.
Mas que barbaridade!!! Estes textos deveriam estar impressos em jornais de grande circulação! Maravilha de se ler!!! Parabéns Mauro!
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