sábado, 4 de abril de 2015

Os intocáveis

Chiko Kuneski

Meu propósito aqui no Crônicas é falar do futebol,  mas às vezes o momento requer escrever também sobre política. Deixar os lúdicos personagens dos estádios para abordar o pior tema para quem vive e gosta de futebol: os cartolas.

O futebol brasileiro exibe hoje, talvez exemplado pelo país, uma crise de moralidade dos seus comandantes. A Federação Carioca de Futebol é o maior exemplo do jogo de cartas marcadas dos “políticos” da bola com os clubes.

A Ferj age de maneira ditatorial e impõem uma censura velada a dirigentes, treinadores e jogadores do campeonato carioca. Amordaça com punições extra campo quem ousa “abrir a boca” e criticar a entidade ou sua forma de atuar.

Essa federação é apenas a ponta que aparece do iceberg do esquema de desmandos e perpetuação montados pelos presidentes das entidades estaduais, que acaba sustentando a mesma lógica na CBF. Esses “políticos” da bola usam seu poder para cooptar ligas e clubes de menor expressão, que garantem maioria nas elaborações dos campeonatos, suas regras, regimentos e divisão do dinheiro pago pelas televisões para transmitirem os jogos.

Negociam cotas milionárias, sempre cobrando percentuais de administração. Os times pagam elencos, cumprem compromissos financeiros, jogam para as televisões e as federações ficam com a sua fatia das verbas por “administrarem”.

Mas isso apenas acontece porque o golpe já foi dado antes, quando da eleição dos mandatários das federações. Também garantindo maioria com cooptação descarada de ligas, times e entidades esportivas, os “políticos” da bola se perpetuam ou revezam nas direções das entidades. O clube que discordar dessa prática tem o direito de se desfiliar, mas fica sem a possibilidade de jogar qualquer partida, mesmo amistosas. É a “democracia” do “ame ou aceite”.

Os presidentes das federações não prestam contas a ninguém, não são submetidos a nenhuma regra, a não ser as que eles mesmo criam, não respondem nem mesmo ao torcedor. Veladamente, as entidades descumprem o Estatuto do Torcedor com manobras e manobras.

Mas o quadro fica ainda mais tenebroso quando o Judiciário esportivo respalda os procedimentos ditatoriais das federações, sempre punindo clubes, técnicos e jogadores. Esse é o elo perfeito da corrupção do futebol brasileiro, federações e suas justiças desportivas, que sustenta um bando de intocáveis.


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