segunda-feira, 13 de abril de 2015

É pênalti!!! Pênalti???

Mauro Pandolfi

Todo atacante na área é um canalha. Todo árbitro é um cínico. A bola vem no pé. Domina, acaricia e parte para o drible. O zagueiro vem atrasado. O avante diminui o passo, esconde a bola, o gol está a sua frente. Mas, dobra os joelhos, espera o contato que não existe, cai num grito mortal, desesperado. O árbitro estica o braço para a marca fatal, sopra o apito e... pênalti! esgoela-se o narrador desavisado. É mais fácil para os dois. As reclamações são mais duras aos não marcados.

Cenas de todos os jogos. Agora, tem também as mãos. Pena que pouca gente, ou ninguém, lê este blog, para propor uma campanha: o fim do pênalti!

O futebol é um jogo de enganos. O drible é o dom de iludir o adversário. Imagina o espaço, flerta com ele, oferece a bola e, num átimo, deixa o oponente deitado ou para trás. Sempre foi assim. Há outra sofisticada forma de lograr o rival e o árbitro: a falta cavada. O uso de câmeras denuncia a farsa mágica. Alguns árbitros caem no truque. Craques se tornaram especialistas na artimanha. Sentem o bafo, escutam os passos e preparam o ato.

Até comentaristas de arbitragens não percebem o show. Antigamente chamavam de malandragem. Em tempos politicamente correto ou de valorização da ética, o 'artista' corre o risco de sair de cena.  Mas, aí, depende das 'cores' da camisa.

O futebol é uma desistência do rugby. Alguns contrários, ou mais fracos, à violência criaram um novo jogo. Mais técnico, menos físico, mais lúdico. Após os primeiros jogos, onde os agarrões eram constantes - uma lembrança primitiva do rugby - foi estabelecida uma nova regra: a falta. Ficou proibido agarrar da cintura para baixo. O pontapé também não foi tolerado.

Imaginavam que o jogo teria poucas faltas, principalmente, perto das traves. Em nova reunião criou-se o pênalti. A lei mais burlada do futebol e, quem sabe, do país. Toda lei é uma interpretação. Além de árbitro, torna-se juiz e carrasco. Ele quem define a infração, estabelece o que é falta, escolhe a punição. É um déspota!

As mãos. Para que servem as mãos? Era a pergunta de um célebre monólogo: As mãos de Eurídice. No futebol, é uso, quase, exclusivo do goleiro. Os outros utilizam na cobrança de um lateral, numa puxada de camisa, num agarrão, num pescoção. Em caso mais extremo, num soco. Alguns transformam-se em faltas. As mãos tornaram-se vilãs. Quase todo toque virou pênalti. "As mãos afastadas aumentam a área do corpo. Isto é falta!", argumentam os teóricos da arbitragem. Não há interpretação. Há escolhas. Lances discutíveis, muito usado para favorecer clubes grandes em apuros.

O pênalti é o estelionato no futebol. Faltas triviais, quase inocentes, do meio-campo não podem modificar uma partida com um pênalti. Dois toques, no máximo. Dentro da área, a falta fatal deveria ser 'tentativa de homicídio' ou o gol iminente evitado. E, quanto as mãos? Os lances, com as ridículas marcações, falam por si. Deveriam ser, no máximo, dois toques. Eu sou radical: fim dos pênaltis! Quem sabe, os atacantes recuperem a volúpia, o desejo, o prazer de fazer um gol com a bola andando.


Ao sol e à sombra

Morreu Eduardo Galeano. A bola despede-se do poeta do verso bem driblado. Dá adeus ao gol ritmado. Mas, o apelo por uma boa jogada permanece. Eduardo Galeano é o autor do mais belo livro sobre o futebol: Ao sol e à sombra. Galeano estava no mesmo nível de Di Stefano, Pelé, Maradona e Messi.


Nenhum comentário:

Postar um comentário