terça-feira, 21 de abril de 2015

Os dribles e o passe

Chiko Kuneski

Asas poéticas das chuteiras me obrigam ao confronto de conceitos com o genial texto de Mauro Pandolfi, “o medo de ser João”.

Iniesta, ampliou a dicotomia entre os conceitos. O passe sobrepõe o drible; ou o drible faz o passe? O espanhol recuperou a bola, o objetivo do futebol, em sua intermediária. Sozinho, sem tabela, sem o tik-tak de Pepe Guardiola, driblou metade dos jogadores do PSG, com fintas, físicas ou imaginárias. A genialidade individual sobrepôs a marcação do conjunto.

O drible na vertical. Cortante. Preciso e impensado, dilacerou o exército gaulês. Depois dos dribles impensados, a genialidade saída dos pés do desarme, do mestre dos passes precisos, do jogo esquemático, acabou no passe mais que perfeito que caiu nas chuteiras de outro driblador, Neymar. Mas o perfeito do passe só foi possível com o inusitado dos dribles.

Antes da “assistência”, como gostam de dizer os comentaristas que trouxeram a assertiva do basquete, Iniesta driblou, direta ou indiretamente seis franceses. Mais da metade dos marcadores foram subjugados pelo talento individual. O coletivo da marcação, do esquema, do rouba para passar, sucumbiu.

Mais uma vez o drible desconcentra. Desconcerta. O passe, ou “assistência”, resulta no gol vencedor depois que as assas das chuteiras fazem a mágica de desmontar todo o esquema de marcação oponente.

No ataque mais impressionante da atualidade do futebol mundial, com Messi, Neymar e Suares, o drible a partir do meio campo da genialidade de Iniesta, individualmente, salva a falta do coletivo dos esquemas, do toque, da movimentação, dos passes. Foram os três dribles e um só passe.  O passe completa o drible; o drible torna mágico o passe.

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