domingo, 19 de abril de 2015

A primeira paixão

Chiko Kuneski

Certa vez alguém me disse que a primeira paixão de um menino nunca será esquecida, por mais tempo que viva. Concordo. Posso dizer, sem medos, que minha primeira paixão foi um time de futebol: o Paysandu de Brusque. Talvez levado por ser o clube do meu avô Venâncio Regis, ou contagiado pelo fanatismo dos meus tios. Mas paixões não se explica. Nos entregamos.

As paixões não são como meros amores. Esses são adocicados, longos, degustados; até tornarem-se amargos pelo tempo. As paixões são cada vez mais intensas, inesquecíveis, intocáveis e imutáveis. A paixão é ímpar. Podemos ter inúmeras delas, mas continuam sendo ímpares. Cada uma.

Ao contrário do que dizem os poetas; não são voláteis. Nem mutáveis. Acabam ocupando seu lugar, uma a uma, nunca duas a duas. Não é possível ter duas paixões simultâneas, como dois amores. Esses podem dividir o mesmo espaço ao mesmo tempo. A paixão primeira é ciumenta, possessiva, intensa demais e anuvia novos prazeres de outras mais recentes ou de amores voláteis.

Foi essa paixão de menino, nunca escondida, mas bem guardada, que aflorou ao ler o capítulo do livro de Valdir Appel, “E o futebol chegou a Brusque”. As lembranças de “o goleiro acorrentado”, descoberto e envidado para o mundo pelo “mais querido” Paysandú na década de 60, incitou a minha primeira paixão de menino.

Em sonho impúbere, vesti a camisa verde e branca imaginária e fui ao campo Cônsul Carlos Renaux, na rua Pedro Werner, uma heresia do destino, como tantas outras, assistir o jogo entre os brusquenses Paysandú e Carlos Renaux, um clássico que nunca se esmaecerá do afeto dessa primeira paixão. 

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