quarta-feira, 15 de abril de 2015

O drible

Chiko Kuneski

Uma corrente de juízes, dirigentes e até jogadores, “megafonados” por comentaristas esportivos raivosos, criaram um estigma do drible no futebol brasileiro. O talento, o inventivo, o lúdico das chuteiras com asas foi criticado, rotulado e por pouco banido dos gramados.

Mas o drible, por mais desconcertante de seja, é a glorificação ou humilha?

O drible é a essência do futebol. Mais do que o passe. Era o fator diferencial do Brasil. Por gerações levou multidões aos estádios. As pernas tortas de Garrincha, iludindo olhares, pés e marcações dos adversários, eram aplaudidas de pé pelos torcedores, do seu time ou da equipe adversária. Não importava. Aplaudiam o talento.

Garrincha, Pelé, Zico, Edus, e tantos outros, faziam da genialidade do drible a marca do futebol nacional e sua supremacia internacional. Ganhamos copas com a “molecagem” do drible, que desmontava esquemas bélicos europeus e sulamericanos.

Mas driblar no Brasil tornou-se significado de humilhar o marcador.  Como se o talento não devesse mais se sobrepor aos esquemas rígidos, zagueiros rígidos, juízes rígidos. Comentaristas formais. Tolheram o direito do drible do futebol nacional, faz tempo atrasado e correndo atrás dos oponentes. Viramos repetidores do antiquado, com zagueiros de “pebolim”, presos e sem talento, tentando tolher o talento liberado dos oponentes. Na dúvida vale o pontapé para parar o craque. Mas criminaliza-se o drible, o provocador.

Na rodada de hoje, 15/04/15, da Liga dos Campeões da Europa, que é uma mini-copa do mundo, os zagueiros nacionais tomaram de 6X2. Não foi tão humilhante quanto os 7X1 da Alemanha na Copa de 2014, mas foi bem próximo, até porque venceu o talento, o drible, a qualidade que tolheram de nossos jogadores com a crítica à magia do drible.

Davi Luiz levou duas bolas entre as pernas de Suares, o Uruguaio genial. Na Segunda “caneta” o artilheiro do Barcelona fez um gol magnífico, o terceiro do time catalão. Final PSG 1 Braça 3. A vítima do Porto, dos patrícios, foi Dante, do poderoso, Bayern. Nem o técnico Pepe Guardiola dá jeito na falta de qualidade dos zagueiros da nossa Seleção. Final, Portugueses 3, alemães 1.


Talvez a rodada de hoje explique, finalmente, os 7X1 dos germânicos. Como prarticamente baniram o drible do futebol brasileiro, até excomungando os talentos dribladores, temos zagueiros que não mais enxergam a mágica dos movimentos insensatos, impensados, mas vencedores. Marcam a bola; não as asas das chuteiras que glorificam o drible sem humilhar o driblado.

Imagem da ESPN

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