Mauro Pandolfi
"... meu domingo alegre vai ser..." Ângelo Máximo é a
voz que escuto ao ligar o rádio em um programa de bregas antigos. A cafeteira
avisa que o café está pronto. O mel é o companheiro da manteiga na fatia de
pão. Um é pouco! Então, preparo o sanduíche de salame e queijo para o início da
manhã. Arrumo numa bandeja e vou para frente da tevê. Todos ainda estão
dormindo.
O volume é baixo, não identifico os nomes dos jogadores nas
camisetas. Letras estranhas, números, só pode ser ... campeonato russo!
Reconheço um: o ótimo Mario Fernandes, o guri que fugiu da Seleção. O CSKA vai
atropelando o Zenit. Olha só! O Hulk! Poxa vida! Ele acaba de perder um gol.
Normal!
O café ficou forte. O pão com mel e manteiga é uma delícia. Troco
de canal. Aumento o volume e reconheço a música. É Beatles! Oba! Jogo do
Liverpool! É o pré-jogo mais emocionante de todos. As bandeiras tremulam,
mantas balançam, os torcedores cantam. Um show! O jogo virou só um detalhe. A
festa já vi! Ah, o adversário era o Manchester United.
Pego mais uma xícara de café e devoro o sanduíche de salame.
Philippe Coutinho é um espetáculo! Toque refinado, passe preciso e... que
golaço! Dou um pulo. O pão espalha-se pela sala. O guardanapo foi junto. A
bandeja caiu no sofá. Ainda bem que a xícara estava na mesa. Ufa! A
bronca da Elaine seria imensa.
Fui buscar o travesseiro para me acomodar. O clássico inglês
estava bem disputado. Rooney empatou o jogo. No final, o Liverpool marcou o gol
da vitória. O mito Gerrard, de voleio, mantém a esperança de uma vaga para a
Champions League. Vou buscar uma maçã e troco de canal.
Segunda divisão de São Paulo. O Guarani, ah o Guarani de Zenon,
entra em campo para enfrentar o São Caetano. Como é cruel o futebol! Não perdoa
a má gestão, a incompetência, o desleixo, os timecos. O Brinco de Ouro está
vazio. A bola pune, mesmo! Que pena!
Todos estão acordados. Acabou o silêncio. Desisti do paulista. Não
tinha pamonha em casa. Pão francês, sim! Mais um sanduíche para acompanhar os
amigos de Ibrahimovic. Fiz o sanduíche na cozinha e levei até a sala embaixo do
braço para me sentir francês. O adversário é o Nantes. Olha! A camisa é igual
ao do Ypiranga de Erechim! Já sei para quem torcer. A diferença é brutal e o
PSG vai empilhando gols. Desisto! Pensei em voltar ao paulista. Mas, no meio do
caminho tinha um português. O encarnado - já estou torcendo contra - Benfica
encara o Estrela Amadora. Jogo jogado, decidido, desigual. Benfica vai enfiando
4 a 0. É só o primeiro tempo. Larguei!
Aproveito o intervalo e vou tomar banho. Estamos todos prontos
para sair. A casa da vó Lídia é o passeio dominical. Antes dou uma espiada na
tevê. Porca miséria! É o italiano! A Juve de Tevez enfrenta a decadência
milanesa da Inter. Quanta heresia 'questa' Inter! As cores do Grêmio e este
nome impronunciável. A 'viagem' é curta. Dez minutos! Quando chego lá, na
mamma, a Juventus já está ganhando. Beijos todos, falo da semana para a mãe e
vamos à mesa. Macarronada, vinho, conversa em tom alto, muita risada e mais um
gol de Tevez. A sobremesa é sagu. Um almoço italiano. Opa! Mais um da Juve. Não
descobri de quem foi.
A conversa continua na sala. Estamos esparramados. Na tevê há uma
troca constante de canal. Há quem prefira ver o Bayern de Munique contra o
Hamburgo. Já está 4 a 0 para a gang de Guardiola. Peguei o controle e busco o
espanhol. 4 a 1 para o Barcelona contra o Levante. Três de Messi e um de
Neymar. Trocamos olhares. Rimos. É agora? Um ataque para cada jogo. Sei que o
Bayern empilhou mais quatro. O Barcelona se contentou com dois. Não são só
partidas. O que vimos foi o futebol. A essência mais pura, a forma mais exata,
o poema mais belo da bola.
A mãe chama para o café da tarde. O tempo voou. Quem está na tela
é o futebol catarinense. Inter de Lages recebe o Figueirense. A primeira paixão
contra o amor atual. Em algum canto da alma e do coração há o desejo amoroso
abandonado da primeira namorada. Basta uma fagulha, tudo desperta. E com o
Inter está sendo assim. Ah, as minhas contradições de cores, de times, este Inter
tem uma sonoridade poética que não vejo nos outros de mesmo nome. Como não se
encantar com o talento de Marcelinho Paraíba?
Mas, como rejeitar a fúria bendita do Figueira de Argel, que
considero um dos melhores times do Brasil? O empate, o muro, só espectador. São
as minhas alternativas. Despeço-me de todos. É a hora de irmos embora. O jogo
continua na tela do celular até chegarmos em casa. Terminou 1 a 1. Belo empate!
Estou no meu mundo. Faço um zap geral. Vejo lances dos melhores
momentos de vários campeonatos. Daqui a pouco começa o meu ritual religioso. É
o Grêmio em campo. Já estou ligado nas emissoras gauchas pelo tablet e celular.
O 'tuninho', como chamo o Tune In, é a melhor invenção para quem adora
rádio.
Lá vem o Grêmio! As cores mágicas, heróicas, épicas. Meu coração
palpita, a alma reflete a paixão. O time se agarra na história, nos feitos.
Sobrevive nas glórias do passado. Estamos ameaçados no gauchão. Felipão resiste
ao tempo e ao novo tempo do futebol. Antigas táticas, parece imutável ao 7 a 1.
Os guris deram lugares aos novos contratados, velhos ídolos de outras épocas. E
deu certo contra o Caxias. Maicon acertou o meio; Braian Rodrigues é uma boa
aposta em novo Jardel e Christian Rodriguez acelerou o ritmo no meio. Até o
mangolão Douglas fez um gol olímpico espetacular. A noite vai terminando feliz.
Hora do jantar. Os meninos gritam que estão com fome. O rádio é o
meu companheiro na cozinha. Escuto os vestiários, as explicações e as novas
esperanças de um tempo melhor. O jantar está pronto, servido e a louça lavada.
São quase dez. Não ligo para as resenhas esportivas da tevê. Vasculho em busca
de mais uma partida. Encontro o River contra o Lanus. Sou fã do futebol
argentino. Assisto os últimos minutos. O River vence e imagino a felicidade do
meu amigo Alberto.
Onze da noite. Há videotapes na tevê a escolher. Jogos europeus e
regionais do Brasil. No silêncio do quarto, apago a luz, abaixo o volume,
escolho um novo jogo: 'os três pontinhos", do Sílvio Santos. O domingão
foi ótimo. "Você tem certeza disso?"
Mauro, meu amigo. Parabéns pelo blog!
ResponderExcluirQue maravilha poder degustar seus textos... Serei leitor assíduo!
Grande abraço!
Alexandre Galiazzi
Mauro, vendo o teu Inter de Lages jogar contra o Criciúma, me pergunto: Como um time que teve várias oportunidades no primeiro tempo, era infinitamente superior ao adversário, após fazer o gol, começa a ceder tanto espaço ao adversário? Ou é o adversário que joga no tudo ou nada e acaba crescendo? Outra dúvida, o que motiva o M Paraíba a jogar tanto em um time em que ele é o único craque e sabendo que já está negociado para o próximo ano? Acho que conheço a resposta para a última pergunta, mas é tão raro de encontrar nos dias atuais que chega a estranhar...
ResponderExcluirEstou no aguardo do próximo post.
Abraços.
Buenas, Alexandre! Gratos pelos elogios. O futebol tem vários olhares, observações. Atualmente vivemos pelo mínimo, aceitamos e concordamos com o mínimo. O futebol não é diferente. O resultado é conquistado. Então vamos manter. Não há lugar para a ousadia, não há volúpia por mais. E, olha que o Mabília é um treinador promissor. Porém, também vai pelo mínimo. Em 1974 o Inter teve uma Marcelinho Paraíba. Era Gaspar. Um meia habilidoso que tinha jogado no Grêmio. Jogava, bebia, sumia, reaparecia, jogava, bebia, sumia.... foi a temporada inteira assim. Todos em lagesx adoravam o Gaspar. Não é cobrado. Várias vezes o presidente João Saldanha e o diretor Rogério Sbruzzi viajaram até Porto Alegre em busca do Gaspar. Encontravam em garagem, trabalhando de guardador, bêbado e traziam de voltam. O retorno era uma festa. O Inter foi vice-campeão do estado. ESta é uma outra história. Marcelinho é o novo dono do pedaço. Todos o adoram. Como não cobrança, brilha. Além disso, deve gostar de jogar futebol. Marcelinho tem jeito de garoto. E o que o mantém 'jovewm' é o desejo do futebol. De brilhar, de fazer gols. Acho que é isto. Abraços.
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