quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Brasil burlesco

Chiko Kuneski

Mataram nossas paixões. O verbo com sujeito indeterminado é proposital. Não foi um homicídio único, individual, culposo; foi um latrocínio coletivo. Mas o pior dos crimes, um latrocínio sem armas. Foi um roubo de almas.

Nada foi feito de rompante. Nada. Tudo com cuidado. Estudado. Meticuloso. Tudo bem ardiloso. Silenciosamente se apoderaram de nossas paixões. Surrupiaram nossos conceitos. Conceitos na calada da noite desfeitos. A eles impuseram defeitos.

E assim foram lesando o mais sagrado da alma brasileira: as suas paixões.

Com o futebol plantaram a corrupção institucionalizada que criou raízes, ramos e troncos e matou o fruto desejado. Viramos arremedos de nosso passado. Folhas caídas. Frutos podres. Ceifaram nosso sonho de sermos felizes nas conquistas dos dribles criativos, dos passes mágicos dos movimentos de “cacos” teatrais. Esquematizaram tudo. Tudo dentro do esquema.

Na política assassinaram a esperança com a impunidade de um menor infrator. Da punição não punitiva. Do latrocínio nacional sem julgamento. Mataram nossa mais íntima cresça de gritos de vencemos com um jogo de final infeliz. Esquematizaram tudo. Tudo dentro do esquema.

Dentro do esquema, esquematizaram até o dentro. Dentro de campo. Dentro dos gabinetes. O esquema tinha que matar a alegria, o desejo, o credo nos vencedores. Transformaram nossa paixão numa peça burlesca de enredo duvidoso.

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