Chiko
Kuneski
A
vida sempre lhe foi um sonho. De ser jogador. Famoso. Nos campos improvisados
da rua se impunha. Era de porte. Tinha porte. Rápido, muito mais do que sua
adolescência explicava, jogava como titular no time da cidade. Mas a cidade era
pequena demais para seu sonho. O time também.
Sonhava
em ser internacional. Não local. E a cada bola disputada via o futuro que a
juventude vislumbra. O sucesso. Jovem demais para entender que o sonho nem
sempre vira sucesso. E o sucesso nem sempre é o sonhado.
Até
que a realização do sonho chegou. Chegou-lhe ainda moço, juvenil. Jogar num
grande time do Brasil. Todos os chutes para impedir o gol. Todas as marcações
para impedir o gol. Todo treino para ser o que se destacasse em impedir o gol,
a bola na rede, o grito eufórico da torcida valeram a pena.
O
sonho se materializava. Era o passo para ser um jogador internacional. E o
acordar do sonho seria fora da cidade, fora do estado, fora do país. Acordaria
seu sonho sonhando.
Na
estréia o nervosismo da realidade tremeu-lhe as pernas. A vida real é bem mais
cruel do que imaginamos. Era apenas um amistoso. Para os demais em campo apenas
mais um jogo. Para ele o sonho real. Tinha que ser o melhor.
Mas
o sonho acaba quando acordamos. A bola chutada para área acordou o sonho da sua
vida. Logo a bola, que dormia abraçada com ele desde menino. Foi real,
traiçoeira. Cruel no giro. Cruel no toque. Cruel no som do estufar a rede.
Solitário,
sem mais seu sonho de ser um zagueiro internacional, teve tempo de virar a
cabeça e ver a cruel bola envolta pela realidade que marca o gol. Foi contra.
Seu primeiro e único gol. Contra.
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