sábado, 8 de agosto de 2015

Nos ombros dionisíacos

Chiko Kuneski

Hoje é dia dos pais. Mas o que isso tem com o futebol? Provavelmente, pela profissão, muitos pais jogadores estarão longe dos filhos. Mas a lembrança do dia dos pais lacrimejou. Não foi meu pai que incentivou minha paixão pelo futebol. Talvez tenha sido seu maior gesto, de pura felicidade, o motivador.

Não foi uma camisa para induzir-me a gostar do que gostava. Acho mesmo que meu pai apenas assistia futebol para me assistir. Era minha alegria. Meu entusiasmo. Meus gritos de gol que o levavam a torcer comigo. Dizia torcer para meu time, mas nunca tive certeza disso. Torcia pela minha alegria de torcer.

Demorou para entender que meu pai torcia por mim. Pela mesma felicidade de uma criança de sete anos vibrando com o Brasil campeão. Era a Copa do Mundo do México de 1970. O maior jogo de futebol que trago comigo, mesmo tendo que revê-lo a cada Copa para ter a certeza que a memória da criança não foi induzida pela observação crítica do adulto, ainda uma criança vibrante com o futebol.

A imagem do tubo era pura magia. Em preto e branco. Era o sonho. Era a euforia pueril. Na proteção do colo de meu pai levantava a cada drible desconcertante, a cada magia do passe, que só entendi bem mais tarde, a cada grito de gol. Era minha euforia encontrando a dele. Talvez a dele, mais por mim.

Uma vibração simbiótica. Depois da vitória incontestável de 4 X 1 sobre Itália. Do Tricampenato. O primeiro e último mundial nos braços de meu pai, veio o maior triunfo. Do colo protetor para os ombros vencedores. E assim, menino, sentando em seus ombros, dei a maior volta olímpica da vida. O único a olhar a alegria de toda a rua como um campeão

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