Mauro Pandolfi
O
apito é um alívio. Os braços estendidos do árbitro é o sinal do fim. O
massacre terminou. Os perdedores, de cabeça baixa, olham o céu, procuram
um sentido na goleada. O resultado é mais que um desastre. É aviltante,
desesperador. A humilhação marcada na história, na carreira. Perplexos,
alguns erram o caminho da saída. Escondem os rostos com as mãos, as
camisas. Confundem-se. Ignoram os outros. Fogem dos jornalistas. Os
gritos de revolta dos torcedores serão eternos. A goleada é um tsunami.
Terra arrasada. Moralmente devastadora. Os jogadores são um pouco mais
que coisa alguma. Para os torcedores, são usurpadores da paixão.
Traidores das cores. São zumbis que perambularam até a vingança. Nem o
título absolve a goleada.
O
apito é de carnaval. Os braços estendidos do árbitro lembra um mestre
de bateria. A festa nunca terá fim. Os vencedores, de olhar altivo,
miram o céu,
procuram as estrelas que se tornaram. O resultado é um delírio. É
alegria, entusiasmo. A vitória celebrada marcará a carreira. Demoram a
sair do campo. Tudo é êxtase. Divino e maravilhoso. Abraçam-se todos.
Procuram os holofotes. Cantam os cantos da torcida. Confundem-se com
eles. Serão mitos de uma eternidade perene. A goleada é um baile de
gala. Nação em festa. A moral elevada. Os craques são quase tudo. Para
os torcedores, heróis de uma epopeia. Deuses das cores. Guerreiros que
forjaram a vingança. A goleada é maior que o título que nunca vem.
Nem
o jogo épico, da vitória arrancada no último instante, é maior que a
goleada no rival. Não aquela diferença banal de três ou quatro gols.
Mas, a eterna, que dura um século a vingança. Nada é maior. A goleada
redime. No teatro de grama e paixão é a grande arte. O encontro do
impossível e do inacreditável. Da dor sublime com a euforia
carnavalesca. Da glória com a desgraça. Do fantástico com o fracasso
retumbante. De Shakespeare com Nelson Rodrigues. O futebol é o maior
espetáculo da Terra. Não é um jogo. É a vida bem vivida por lunáticos,
poetas, visionários e os amantes do nada. Afinal, o futebol é pouco mais que nada.
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