quarta-feira, 29 de julho de 2015

O teatro de grama e paixão

Mauro Pandolfi
 
Não gosto de esporte.  Gosto de futebol. Futebol não é, mais, um esporte. É teatro de grama e paixão. A vida é representada, vivida, repartida. Tudo está lá.  O drama, a comédia, o amor, o mistério, a aventura, os enganos, os desencontros, o terror, a esperança, o sonho. Tudo contado em atos. Nem sempre bem separados. Às vezes, tudo junto. Quase nunca misturados. Atores e públicos são parceiros, ou rivais, em cena.
O primeiro ato. Vem em bandos. Trazem bandeiras, trapos, tambores e painéis com os rostos dos heróis. Os cantos são desafios bem embalados por um 'coral' afinado. De guerras ou de apoio. Dispostos a tudo. Fundamentalistas da paixão. Há o que chega sozinho. Solitário no silêncio. Aos poucos, descobre o grupo nos gritos, nas vaias, na festa. O soar do apito. Assim começa o teatro de grama e paixão.
O segundo ato. O campo, o jogo, os times.  A bola rola. Troca de passes. O jogo estudado feito um ensaio. O posicionamento lembra a marcação de uma peça. Flui em diálogos, os passes. Ou, um monólogo, o drible. O jogo vai crescendo em intensidade. Os murmúrios da plateia exige uma outra postura. A agressividade vai substituindo o riso, a diversão. Fim do segundo ato.
O terceiro ato. A pressão da vitória, o grito pelo gol, o desespero pelos erros de passes geram um drama que vai crescendo com o passar do tempo. Os olhares são de aflição. O torcedor tem o medo da derrota, do fracasso que é o seu parceiro diário. O jogo tem um segredo, um enigma. Decifra-me ou te devoro? Os enganos e os desencontros surgem na tentativa de descobrir a saída. A bola vai alta, longe, dispersa. Até que alguém descubra a magia. Decifre e crie a alegria do teatro. A plateia explode em êxtase no gol. Fim do terceiro ato.
Epílogo. O trilhar do apito. O suor, as lágrimas, os risos, os abraços, a festa, a derrota. O jogo não termina aí. O teatro de grama e paixão continua. Às vezes, como farsa. Outras, como epopeia.  Um jogo de futebol tem a duração da eternidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário