Mauro Pandolfi
Daniel Alves é um homem moderno. Tem o mosaico da sua vida perpetuado no
corpo. A luta, a derrota, a vitória, a sua historia são desenhos que
marcam, também, a alma. Estiloso. Sabe combinar um terno azul claro com um
tênis vermelho. Em alguns, beira o ridículo. Nele, é pura sofisticação. Troca de óculos com a mesma facilidade de um passe de
Iniesta.
O
olhar frio de 'pistoleiro', que é decifrado por uma câmera de
televisão na hora da cobrança de uma falta, é o mesmo que se emociona ao
falar com a torcida culé. Daniel aprendeu a jogar sem bola, procurar o
espaço vazio do campo e o vazio que o jornalismo esportivo não ocupa. No
programa Bola da Vez, da Espn Brasil, ele revelou ser um 'pensador'
ousado, crítico, devastador sobre o futebol brasileiro. Uma entrevista
fantástica. Uma lição sobre o futebol e a vida. Imperdível!
Não
é só o Oceano Atlântico que separa Barcelona do Rio de Janeiro. É um
túnel do tempo. Pelo menos, no futebol. Segundo Daniel Alves é uma volta
ao passado. "Só as cinco estrelas não ganham mais nada. Não estamos nos
reinventando. Aqui ainda há titulares e reservas. Não entenderam que o
time que entra em campo é escolhido pelo esquema tático da equipe e do
adversário. São os mesmos métodos, treinos. Falta estrutura, gestão,
preparação. Se os treinadores brasileiros fossem mesmos bons estariam
nas grandes ligas", explica.
A metralhadora giratória - 'sou mesmo linguarudo', - é
devastadora. Arrasa com a comissão técnico da seleção. Para ele, a
goleada alemã era previsível: "taticamente não estávamos
preparados. Futebol não tem surpresa, futebol é preparação, vitória é
preparação". O time dos treinos foi um. Quem jogou foi outro.
Pep
Guardiola é um sonho para quem ama o futebol. Eu o queria no meu time.
Ele se ofereceu para treinar a seleção. Foi recusado. "Pep é o melhor
treinador do mundo. Revolucionou o futebol, um time, você tem a chance
de ter o cara aqui, sem ter que gastar, você deixa passar uma
oportunidade desta, não pensa na seleção", afirmou. Um destes que não
pensa na seleção é Carlos Alberto Parreira.
O soberbo tecnocrata, campeão mundial por estes desígnios inexplicáveis
dos deuses da bola, afirmou que "para ser treinador tem de ganhar três
brasileiros e três copas do Brasil". Mentira! Parreira sabe que o
futebol é
o microcosmo do país. O técnico é escolhido da mesma maneira que se
escolhe um ministro, um chefe de autarquia ou presidente de estatal. É
uma relação de compadrio, de interesses ou para atender a companheirada.
Será que currículo, mérito e títulos não são fundamentais? Ou é um
devaneio 'coxinha'
De
Juazeiro até Barcelona. Da roça aos títulos. Daniel Alves
mostrou que é possível filosofar em português. No ano passado, no mesmo
Bola da Vez, Paul Breitner foi magnífico na conversa sobre futebol,
história, comportamento. O papo com Daniel Alves é complementar. A
última resposta é uma lição de vida. Qual foi? Assista o programa.
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