segunda-feira, 13 de julho de 2015

É possível filosofar em português


                        Mauro Pandolfi

Daniel Alves é um homem moderno. Tem o mosaico da sua vida perpetuado no corpo. A luta, a derrota, a vitória, a sua historia são desenhos que marcam, também, a alma. Estiloso. Sabe combinar um terno azul claro com um tênis vermelho. Em alguns, beira o ridículo. Nele, é pura sofisticação. Troca de óculos com a mesma facilidade de um passe de Iniesta.
O olhar frio de 'pistoleiro', que é decifrado por uma câmera de televisão na hora da cobrança de uma falta, é o mesmo que se emociona ao falar com a torcida culé. Daniel aprendeu a jogar sem bola, procurar o espaço vazio do campo e o vazio que o jornalismo esportivo não ocupa. No programa Bola da Vez, da Espn Brasil, ele revelou ser um 'pensador' ousado, crítico, devastador sobre o futebol brasileiro. Uma entrevista fantástica. Uma lição sobre o futebol e a vida. Imperdível!
Não é só o Oceano Atlântico que separa Barcelona do Rio de Janeiro. É um túnel do tempo. Pelo menos, no futebol. Segundo Daniel Alves é uma volta ao passado. "Só as cinco estrelas não ganham mais nada. Não estamos nos reinventando. Aqui ainda há titulares e reservas. Não entenderam que o time que entra em campo é escolhido pelo esquema tático da equipe e do adversário. São os mesmos métodos, treinos. Falta estrutura, gestão, preparação. Se os treinadores brasileiros fossem mesmos bons estariam nas grandes ligas", explica.
A metralhadora giratória - 'sou mesmo linguarudo',  -  é devastadora. Arrasa com a comissão técnico da  seleção. Para ele, a goleada alemã era previsível: "taticamente não estávamos preparados. Futebol não tem surpresa, futebol é preparação, vitória é preparação". O time dos treinos foi um. Quem jogou foi outro.
Pep Guardiola é um sonho para quem ama o futebol. Eu o queria no meu time. Ele se ofereceu para treinar a seleção. Foi recusado. "Pep é o melhor treinador do mundo. Revolucionou o futebol, um time, você tem a chance de ter o cara aqui, sem ter que gastar, você deixa passar uma oportunidade desta, não pensa na seleção", afirmou. Um destes que não pensa na seleção é Carlos Alberto Parreira.
O soberbo tecnocrata, campeão mundial por estes desígnios inexplicáveis dos deuses da bola, afirmou que "para ser treinador tem de ganhar três brasileiros e três copas do Brasil". Mentira! Parreira sabe que o futebol é o microcosmo do país. O técnico é escolhido da mesma maneira que se escolhe um ministro, um chefe de autarquia ou presidente de estatal. É uma relação de compadrio, de interesses ou para atender a companheirada. Será que currículo, mérito e títulos não são fundamentais? Ou é um devaneio 'coxinha'
De Juazeiro até Barcelona. Da roça aos títulos. Daniel Alves mostrou que é possível filosofar em português. No ano passado, no mesmo Bola da Vez, Paul Breitner foi magnífico na conversa sobre futebol, história, comportamento. O papo com Daniel Alves é complementar. A última resposta é uma lição de vida. Qual foi? Assista o programa.

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