Mauro Pandolfi
"O lado ruim da vitória é que ela não é definitiva. O lado bom da derrota é que ela, também, não é definitiva"
José Saramago
Drama.
200 mil pessoas andam sem rumo. Olhares atônitos encontram o vazio no
horizonte. Lágrimas escapam. A multidão não reage. A história é
recontada. Cada um tem a sua versão. Todas diferentes. Nenhuma é igual a
outra. O silencio é ruidoso. Dá para ouvir os gritos do pequeno grupo
de homens que calou o gigante de cimento. Estão trancados no vestiário.
16 de julho de 1950 é a 'tragédia' brasileira. Tão dramática como as
gregas. Ninguém morreu. Todos foram abatidos. As almas brasileiras foram
despedaçadas. Os onze do campo de jogo foram devorados. Alguns por
inteiro. Outros junto com o futebol em partes, lentamente. Gente que
perdeu o jogo, a identidade, o espírito. Para sempre vira-latas. Vagaram
o resto da vida feito um zumbi. Barbosa foi um deles.
A derrota de 50 é a maior do futebol brasileiro. A mais dramática, devastadora. Atingiu o orgulho. O Brasil grande é ferido. Nada muda no processo desenvolvimentista. A modernidade era a ambição de Vargas que seria eleito em outubro. A televisão é instalada em São Paulo. A alma brasileira é reconstruída aos pedaços, junto com o futebol. Um menino no interior de São Paulo, que escutou a derrota pelo rádio, prometeu ao pai que será campeão do mundo. Cumpriu três vezes. O seu nome é Edson. O futebol é de Pelé.
2014. Julho. Oito. A segunda grande derrota. Os alemães passearam, brincaram, aniquilaram a frágil seleção brasileira. Os gols foram pura magia. A arte tão sonhada do futebol tem um sotaque germânico. Não foi uma 'tragédia', nem dramática. Foi mais farsesca. Virou zoeira na internet, nas ruas, nos programas de humor. A destruição de uma mitologia que já era ruína. O país explodia em escândalos e pedia uma grande transformação. Nada mudou. Os escândalos continuaram e Dunga foi o escolhido para a seleção. Será que algum menino triste com a tristeza do pai prometeu o mesmo que o Édson? Tomara! Esta é a esperança. Mudança no futebol e no país? Aqui, as coisas mudam para ficar como estão!
Messi
foi o carrasco da terceira maior derrota do futebol brasileiro. Numa
noite fria de terça-feira, o genial Lionel foi destruidor. Rápido,
mortal, certeiro. Seus companheiros de massacre foram Pastore e Di
Maria. O Brasil jogou de vermelho e branco e usou o nome de ...Paraguai!
Está foi a grande derrota virtual. Uma goleada que começou assim: 'de
que escapamos!' e terminou num 'obrigado Paraguai pelos pênaltis!'. Era o
resultado sonhado, pedido, desejado, autofágico. Voltamos, como farsa,
ao julho de 1950. O complexo de vira-latas retornou. Mais forte, mais
dramático, mais cínico. Acho que desta vez nenhum menino prometeu nada
ao seu pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário