terça-feira, 21 de julho de 2015

Vendaval

Mauro Pandolfi

 Paulinho da Viola avisou que dinheiro é um pecado capital. A turma do petrolão não entendeu o samba. Foi no Moro que descobriu que é um vendaval na mão de um sonhador. Na de um canalha, é luxo, riqueza e prisão. Já Joseph Blatter sentiu que o tsunami financeiro encontrado pelo FBI nas contas da fifa faz mais estrago no futebol que um craque com o diabo no corpo. Martinho da Vila não faz sucesso com este pessoal. Afinal, mesmo que ela não dê bola, o dinheiro é sempre  dinheiro. Já eu, pobre escriba, nunca passei por isto. Também, dinheiro na minha mão, é só uma ilusão.
 Os políticos brasileiros sempre cantaram a velha marchinha de Moacir Franco. 'E, você aí? Me dá um dinheiro aí?' é o que garante a governabilidade há muito tempo neste país. Todos cantam. De vereador até presidente. Numa conta do exterior ou escondido na cueca, o dinheiro é a solução para o apoio, a campanha e as farras. Nem uma oração para o santo salva quando tudo é olhado por uma câmera indiscreta.  Acuados, berram, esperneiam, ameaçam. Mas, no fundo todos dizem a mesma coisa: 'eu mereço por tudo o que faço pelo Brasil!'. Na república das monarquias, os ex-donos do poder nunca perdem a majestade. Cair puma Fiat Elba é para amador. Um político profissional do crime é derrubado com Porsche, Lamborghini, Ferrari. Já o outro, que tem a língua presa e a fala solta, trafica palavras em troca de números. Grandes números. No mínimo com sete dígitos. Sem esquecer o vinho francês na viagem. O hino que nós - população - deveríamos cantar deveria ser o samba daquele velho cantor: 'Se gritar pega ladrão, não fica um".
 O comediante é o olhar irônico da sociedade. Tem de ser cruel com o poder. Irônico e devastador. Sem tréguas. Lembro a torta no rosto do presidente do FMI e o sapato jogado no Bush filho. É uma forma de protesto que constrange o poder. O inglês, não sei o nome, é o meu herói deste mês. Não pesquisei a identidade. O anonimato me deixa feliz e radiante. Invadiu a coletiva de Blatter e jogou dinheiro sobre ele. O presidente da fifa ficou irritado. Não sei se pela interrupção ou pelo dinheiro falso? O comediante foi retirado de cena. Aliás, atitude Monty Python puro.
Imagino a cena no Brasil. Quem faria? Pânico e CQC perderam a irreverência, a crítica com os poderosos. Adulam somente as celebridades. Danilo Gentili seria um ato pró tucano. Enquanto Jô Soares é humor a favor. Porta dos Fundos tem a anarquia necessária para isto. Marcelo Adnet não arriscaria o emprego!  Tiririca é um bom nome. Não dá! O palhaço já faz parte da turma. Ei, pessoal do stand-up, quem topa a façanha?
 Reunião da fifa. Cartolas reunidos. Nova data para a eleição. Ninguém da cbf. Del Nero foge dos aeroportos, tem medo de avião e do FBI. José Maria Marin, isolado numa cadeia suiça, entendeu os últimos versos do samba de Paulinho: "Dinheiro na mão é solução. E solidão! E solidão! E solidão!"

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