Mauro Pandolfi
Paulinho
da Viola avisou que dinheiro é um pecado capital. A turma do petrolão
não entendeu o samba. Foi no Moro que descobriu que é um vendaval na
mão de um sonhador. Na de um canalha, é luxo, riqueza e prisão. Já
Joseph Blatter sentiu que o tsunami financeiro encontrado pelo FBI nas
contas da fifa faz mais estrago no futebol que um craque com o diabo no
corpo. Martinho da Vila não faz sucesso com este pessoal. Afinal, mesmo
que ela não dê bola, o dinheiro é sempre dinheiro. Já eu, pobre
escriba, nunca passei por isto. Também, dinheiro na minha mão, é só uma
ilusão.
Os
políticos brasileiros sempre cantaram a velha marchinha de Moacir
Franco. 'E, você aí? Me dá um dinheiro aí?' é o que garante a
governabilidade há muito tempo neste país. Todos cantam. De vereador até
presidente. Numa conta do exterior ou escondido na cueca, o dinheiro é a
solução para o apoio, a campanha e as farras. Nem uma oração para o
santo salva quando tudo é olhado por
uma câmera indiscreta. Acuados, berram, esperneiam, ameaçam. Mas, no
fundo todos dizem a mesma coisa: 'eu mereço por tudo o que faço pelo
Brasil!'. Na república das monarquias, os ex-donos do poder nunca perdem
a majestade. Cair puma Fiat Elba é para amador. Um político
profissional do crime é derrubado com Porsche, Lamborghini, Ferrari. Já o
outro, que tem a língua presa e a fala solta, trafica palavras em troca
de números. Grandes números. No mínimo com sete dígitos. Sem esquecer o
vinho francês na viagem. O hino que nós - população - deveríamos cantar
deveria ser o samba daquele velho cantor: 'Se gritar pega ladrão, não
fica um".
O
comediante é o olhar irônico da sociedade. Tem de ser cruel com o
poder. Irônico e devastador. Sem tréguas. Lembro a torta no rosto do
presidente do FMI e o sapato jogado no Bush filho. É uma forma de
protesto que constrange o poder. O inglês, não sei o nome, é o meu herói
deste mês. Não pesquisei a identidade. O anonimato me deixa feliz e
radiante. Invadiu a coletiva de Blatter e jogou dinheiro sobre ele. O
presidente da fifa ficou irritado. Não sei se pela interrupção ou pelo
dinheiro falso? O comediante foi retirado de cena. Aliás, atitude Monty
Python puro.
Imagino a cena no Brasil. Quem faria? Pânico e CQC perderam a
irreverência, a crítica com os poderosos. Adulam somente as
celebridades. Danilo Gentili seria um ato pró tucano. Enquanto Jô Soares
é humor a favor. Porta dos Fundos tem a anarquia necessária para isto.
Marcelo Adnet não arriscaria o emprego! Tiririca é um bom nome. Não dá!
O palhaço já faz parte da turma. Ei, pessoal do stand-up, quem topa a
façanha?
Reunião
da fifa. Cartolas reunidos. Nova data para a eleição. Ninguém da cbf.
Del Nero foge dos aeroportos, tem medo de avião e do FBI. José Maria
Marin, isolado numa cadeia suiça, entendeu os últimos versos do samba de
Paulinho: "Dinheiro na mão é solução. E solidão! E solidão! E solidão!"
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