Mauro Pandolfi
Meu
amigo Ray Carlos, o vidente cego, gosta da derrota. 'A vitória é para
os fracos", costuma dizer. A derrota fortalece, obriga aprendizado, não
acomoda, exige reação. Já a vitória é o final do percurso. Tudo é
finito. Resolvido está. O Figueirense 'ganhou' de presente o título do
estadual deste ano. Uma vitória que eu, como torcedor, não gostei. Me
sinto um derrotado. Espero que o Figueira não se acomode com o título.
Reaja a esta 'conquista legal' com uma conquista legítima, verdadeira,
gloriosa.
O
Brasil é o país do legalismo. Há leis que parecem fundamentalistas. São
cumpridas com mais rigor que a lei pede. O Joinville foi punido no
paroxismo da lei. Não levou vantagem em nada. Só perdeu. O jogo e o
título. O jogador estava ilegal. Correto! Participou do jogo pois
poderia invadir o campo, ser advertido e expulso ou agredir alguém.
Correto? E, o André Krobel como se comportou? Foi advertido, expulso,
invadiu o campo, xingou o juiz? Não! Ficou quieto no seu canto. Nem o
treinador Hemerson Maria conversou com ele. Foi punido por presunção.
Por algo que poderia ter feito. E, não fez! O Joinville foi 'vítima' da
legalice.
"O
melhor campeonato de todos os tempos". O slogan da fantasia. 'Cinco
times entre os vinte melhores do Brasil'. A farsa da imaginária grandeza
de Santa Catarina. O
real é cruel. O farsesco é só uma mentira. O catarinão deste ano é o
verdadeiro retrato do futebol daqui. Clubes punidos por erros de
inscrições de jogadores, estádios precários, título decidido no tapetão,
desorganizado por cartolas vaidosos, incompetentes e amadores. E, para
completar o circo, roubaram a taça! Sejam benditos os ladrões! O troféu é
um
arremedo, muito feio, da Bundesliga, a liga alemã. Lamento que os
dirigentes de clubes
não aproveitem o momento e reinventem o futebol em Santa Catarina. Uma
liga no lugar
da obsoleta federação. Uma revolução! Mas, quem acredita em
revolução?
E,
o Figueira com isso? Buscou os seus direitos. Porém, ganhou mais do que
seus 'direitos'. O regulamento desrespeitado pelo Joinville foi ignorado
pelo STJD. Os jogos finais foram 'amistosos, pantomimas' armadas pela
anacrônica federação catarinense do velho coronel Tubarão, opa!, Delfim.
A entidade sabia da irregularidade e nada fez. Nem o tribunal de
justiça (sic) desportiva agiu. Deram um 'peitaço'. Perderam. Todos
perderam. O grande derrotado foi o futebol catarinense.
A
legitimidade do título se dá com dois novos jogos, respeitando a
classificação do hexagonal. Ah, os time não são os mesmos, o que fazer?
Quantos jogadores os dois clubes possuem? 30 ou 40? Destes, onze não
disputaram o catarinão? Não? Escalem os juniores ou juvenis. Façam
os dois jogos. Este título não existe. O título foi 'doado'. Preferia ter perdido no tribunal. A vitória está
marcada pela ironia, deboche, gozação, galhofa. A derrota era mais
honrosa.
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