Mauro Pandolfi
“Mal acabava
uma luta... e começava outra. E quando eu dava por mim, estava no meio de outra
peleia. Não conseguia parar. E lá vinha outra guerra, e outra guerra, e outra
guerra, e mais outra guerra, eu guerreei todas as guerras! Não perdi nenhuma!”
Um certo capitão Rodrigo Cambará em O tempo e o vento.
Olhar
vago. Longe, distante. Os passos são lentos. A pequena passarela
parece um longo caminho para o patíbulo. Para. Abaixa a cabeça. Recebe
uma medalha. Lembra mais uma guilhotina o decepando. Dá dois passos e
guarda o troféu no bolso. A expressão é de um derrotado. Lionel Messi
repetiu a cena nos últimos dois anos. Que estranho mistério é o futebol.
Na troca de
camisa, de parceiros, de alma, o genial se transforma em pouco mais que
um craque. O que ocorre? Há dois Messis? Ou o futebol é só uma caixinha
de
surpresas?
O
futebol é jogado em quatro linhas. Os jogadores são dispostos em
funções táticas. O campo é ocupado. A luta é árdua, envolvente e
perigosa. Vence quem melhor lê as entrelinhas do jogo. É como se
fosse um segredo. Messi é quem decifra melhor os enigmas. É o grande
leitor do jogo. Anda por linhas não imaginadas. Descobre atalhos
escondidos. Torna o difícil simples. Messi é o futebol total.
Brilha intensamente no Barcelona.
Com a camisa da Argentina vira só um
craque. Um jogador fabuloso enredado por 'craques' comuns e treinadores
pouco mais do que medíocres. Seu jogo não flui. Falta a inteligência
de raciocínio de Iniesta e Xavi. Recente da velocidade intuitiva de
Neymar e da volúpia do gol de Suarez. O fantástico precisa de parceiros
para ser fantástico. Isolado é pouco menos que um gênio.
Os
argentinos não gostam de Messi. O toleram nas vitórias. A imprensa o
considera culpado pelas derrotas nas finais. Há um massacre verbal. Se
naquele contra-ataque mortal no final da partida contra o Chile, o tosco
Higuain marcasse o gol. O que diria a imprensa sobre Messi? Manteria as
críticas ou reconheceria o gênio? A dúvida do 'se' é um dilema
filosófico do futebol. Sei que preferem Tevez. É uma escolha!
Tenho dois amigos portenhos
que pensam assim. Alberto, torcedor do River, considera Di Stefano e Sivori
superiores a Maradona, é um crítico feroz de Messi. Para ele, Lionel é
espanhol. "Não é argentino. Foi criado na Espanha e não tem a nossa
alma. É um estranho com a camisa azul celeste", afirma. Já para Abel
falta carisma. "Se este rapaz não tivesse talento para o futebol, teria
muita pena dele. Olha a cara, as expressões, os olhares. Parece um
repositor de supermercado", explicou. Quando for ao supermercado vou
conversar com os repositores. Saber quem joga bola. Talvez, se Abel
tiver razão, encontro um Messi para o meu Grêmio.
A
frase de Rodrigo Cambará é um bom retrato de Messi. Ele não foge da
luta. Não se esconde atrás de uma lesão ou cansaço. Vai à guerra. Chama o
jogo, se expõe. Erra e acerta. É do jogo. Messi já entendeu que o tempo
e o vento moldam o caráter, a têmpera e a virtude. Talvez, não ganhe
nenhuma copa do mundo. Tem bons companheiros nesta falta. Zico, Falcão, Careca,
Cantona,
Sócrates, Sivori, Platini, Puskas, Cruyff não estão entre os ganhadores.
Que timaço, hein? Lúcio, Roque Jr, Gilberto Silva, Paulo Sérgio,
Materazzi, Larrosa, Graziani, Luque, Briegel ergueram o troféu. Que '
esquadrão', hein? A vida é uma escolha. Quem você prefere? Eu fico com a
turma do Messi.
Para sempre
O 7 a 1 da Alemanha nunca terminará. Até o último momento da
eternidade estarão em campo. Ontem, na Câmara dos Deputados, os alemães
marcaram mais gols. A bancada da bola conseguiu modificar vários itens
da MP do futebol. Diminuíram as contrapartidas dos clubes e aumentaram o
prazo para o pagamento das dividas. Ampliaram o colégio eleitoral da
cbf.
Pouco. Muito pouco. Nada. Era o momento de radicalizar, modernizar,
transformar o futebol brasileiro. E, isto passa pelo extermínio das
estruturas, da cbf e das federações. Mas, no Brasil as mudanças são
teóricas. Muda não mudando. Tudo permanece como está. Não há política
para nada. Há programas, alguns bons, e muita mistificação. Não
altera-se a estrutura, o pensar. Esperamos eternamente um salvador. E
assim vamos vivendo...
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