quarta-feira, 8 de julho de 2015

O perdedor

Mauro Pandolfi

“Mal acabava uma luta... e começava outra. E quando eu dava por mim, estava no meio de outra peleia. Não conseguia parar. E lá vinha outra guerra, e outra guerra, e outra guerra, e mais outra guerra, eu guerreei todas as guerras! Não perdi nenhuma!”
   Um certo capitão Rodrigo Cambará em O tempo e o vento.
 Olhar vago. Longe, distante. Os passos são lentos. A pequena passarela parece um longo caminho para o patíbulo. Para. Abaixa a cabeça.  Recebe uma medalha. Lembra mais uma guilhotina o decepando. Dá dois passos e guarda o troféu no bolso. A expressão é de um derrotado.  Lionel Messi repetiu a cena nos últimos dois anos. Que estranho mistério é o futebol. Na troca de camisa, de parceiros, de alma, o genial se transforma em pouco mais que um craque. O que ocorre? Há dois Messis? Ou o futebol é só uma caixinha de surpresas?
 O futebol é jogado em quatro linhas. Os jogadores são dispostos em funções táticas. O campo é ocupado. A luta é árdua, envolvente e perigosa. Vence quem melhor lê as entrelinhas do jogo. É como se fosse um segredo. Messi é quem decifra melhor os enigmas. É o grande leitor do jogo. Anda por linhas não imaginadas.  Descobre atalhos escondidos. Torna o difícil simples. Messi é o futebol total. Brilha intensamente no Barcelona. 
 Com a camisa da Argentina vira só um craque. Um jogador fabuloso enredado por 'craques' comuns e treinadores pouco mais do que medíocres. Seu jogo não flui. Falta a inteligência de raciocínio de Iniesta e Xavi. Recente da velocidade intuitiva de Neymar e da volúpia do gol de Suarez. O fantástico precisa de parceiros para ser fantástico. Isolado é pouco menos que um gênio.
 Os argentinos não gostam de Messi. O toleram nas vitórias.  A imprensa o considera culpado pelas derrotas nas finais. Há um massacre verbal.  Se naquele contra-ataque mortal no final da partida contra o Chile, o tosco Higuain marcasse o gol. O que diria a imprensa sobre Messi? Manteria as críticas ou reconheceria o gênio?  A dúvida do 'se' é um dilema filosófico do futebol. Sei que preferem Tevez. É uma escolha!
 Tenho dois amigos portenhos que pensam assim. Alberto, torcedor do River, considera Di Stefano e Sivori superiores a Maradona, é um crítico feroz de Messi. Para ele, Lionel é espanhol. "Não é argentino. Foi criado na Espanha e não tem a nossa alma. É um estranho com a camisa azul celeste", afirma. Já para Abel falta carisma. "Se este rapaz não tivesse talento para o futebol, teria muita pena dele. Olha a cara, as expressões, os olhares. Parece um repositor de supermercado", explicou. Quando for ao supermercado vou conversar com os repositores. Saber quem joga bola. Talvez, se Abel tiver razão, encontro um Messi para o meu Grêmio.
 A frase de Rodrigo Cambará é um bom retrato de Messi. Ele não foge da luta. Não se esconde atrás de uma lesão ou cansaço. Vai à guerra. Chama o jogo, se expõe. Erra e acerta. É do jogo. Messi já entendeu que o tempo e o vento moldam o caráter, a têmpera e a virtude. Talvez, não ganhe nenhuma copa do mundo. Tem bons companheiros nesta falta. Zico, Falcão, Careca, Cantona, Sócrates, Sivori, Platini, Puskas, Cruyff não estão entre os ganhadores. Que timaço, hein? Lúcio, Roque Jr, Gilberto Silva, Paulo Sérgio, Materazzi, Larrosa, Graziani, Luque, Briegel ergueram o troféu. Que ' esquadrão', hein? A vida é uma escolha. Quem você prefere? Eu fico com a turma do Messi.

Para sempre

 O 7 a 1 da Alemanha nunca terminará. Até o último momento da eternidade estarão em campo. Ontem, na Câmara dos Deputados, os alemães marcaram mais gols. A bancada da bola conseguiu modificar vários itens da MP do futebol. Diminuíram as contrapartidas dos clubes e aumentaram o prazo para o pagamento das dividas.  Ampliaram o colégio eleitoral da cbf.
  Pouco. Muito pouco. Nada. Era o momento de radicalizar, modernizar, transformar o futebol brasileiro.  E, isto passa pelo extermínio das estruturas, da cbf e das federações.  Mas, no Brasil as mudanças são teóricas. Muda não mudando. Tudo permanece como está.  Não há política para nada. Há programas, alguns bons, e muita mistificação.  Não altera-se a estrutura, o pensar. Esperamos eternamente um salvador. E assim vamos vivendo...

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