domingo, 22 de março de 2015

O inventor da fantasia

Chiko Kuneski

Antes dos torcedores conhecerem o factual da imagem de um jogo de futebol pela televisão, o imaginário da velocidade das palavras dos locutores esportivos construíam a dinâmica do torcedor. Até mesmo quando se tinha a sorte de ir ao campo ver o time, a magia do descritivo das ondas do rádio ia junto.

Os lances, às vezes mornos, ganhavam dramaticidade no descritivo, na entonação, na empolgação verbalizada. Quando não estava no estádio, com o rádio colado ao ouvido, de olhos fechados, o torcedor desenhava mentalmente o lance, detalhe por detalhe, até os inventados pelos mágicos da fantasia.

A partida imaginária do ouvinte era a narrada pelo locutor esportivo. Cada um tinha seu eleito e esse lhe era intocável. A fantasia das palavras começava nas “vinhetas” que apresentavam as vozes que faziam sonhar. Um sonho acordado toda quarta-feira à noite e domingo no final de tarde.

O grito de gol era amplificado com o toque do dedo no volume. Todos tinham que ouvir o estilo do locutor para mostrar a vibração da torcida quando do estufar das redes. Por respeito, o ouvinte apenas gritava o gol segundos depois do locutor do rádio.


Antes das transmissões costumeiras de futebol pela televisão, com sua fria imagem e sem o poder do imaginário, o jogo bretão era mais lúdico, sonhado e fantasiado. O locutor esportivo de rádio, ainda tem quem o prefira, continua sendo um inventor da fantasia futebolística.

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