domingo, 1 de março de 2015

Armadilha!

Mauro Pandolfi


Uma armadilha sequestrou o futebol brasileiro: o passado, idilicamente, romântico. Está encurralado nos conceitos, na gestão e na análise. Assim como o país, é só um zumbi de um tempo glorioso. Sobrevive das conquistas e da mitologia de outras épocas. Aqui é o lugar onde o atraso fez a morada. Tudo em construção. Mas, a ruína é a paisagem mais vista. O 7 a 1 da Alemanha foi o melhor retrato do futebol brasileiro: desorganizado, ultrapassado, frágil, perdido, decadente. No entanto, a derrota transformou-se num simples 'apagão'. Nada foi alterado. Só os nomes foram trocados. E, que nomes, hein, foram os substitutos?

Bendito Pep Guardiola! Reinventou um futebol sonhado. Transformou o tiki-taka em um jogo envolvente, mágico, vencedor. A bola é sempre nossa! Este é o conceito de Guardiola. De posse dela, jogamos. Movimentação, diminuição de espaços, abertura de espaços, chute precisos, passes e uma intensa marcação ofensiva. Nunca vi um time defender como Barcelona. Tão sólido que parece ser sempre ofensivo. O sistema de jogo é simples. Complexo é a análise. É necessário novos conceitos e nomenclatura.

Um olhar que fuja da dualidade (aqui tudo vira opostos, antagônicos, rivais) ataque e defesa. O futebol é mais do que isto. É um jogo de espaço e de precioso tempo de bola. A bola é sempre nossa! É deles, quando encontra-se com o véu de noiva.

Decifra-me ou te devoro? O enigma do futebol moderno é um pesadelo para os técnicos brasileiros. Não conseguiram entender Guardiola. Fazem um jogo de imitação. Aqui o moderno é farsesco. Uma clonagem defeituosa. Não há a organização tática ousada do espanhol. Não há o conceito novo do Bayern. A releitura é um equívoco. Não construíram nada e destruíram o antigo. Os times brasileiros estão perdidos numa maçaroca tática. Perdeu-se o histórico estilo e transformou o novo num pastiche.


Guardiola é um desafio. A menção de seu nome para dirigir a seleção revoltou os técnicos tapuias. Como o país da bola importaria treinador? Heresia! O futebol brasileiro foi moldado por estrangeiros. Não qualquer treinador, como fizeram o Inter (com Jorge Fossati e Diego Aguirre) ou o Palmeiras (com Ricardo Gareca). Não um simples repetidor de um sistema de jogo. Mas, alguém conceitual, ousado, inovador. Dori Kruschner e Bélla Gutmann são emblemáticos 'professores' que vieram de fora. Eles reinventaram, modernizam e criaram uma escola de futebol. Sampaoli, Gallardo, Loco Bielsa, Angel Cappa, só para ficarmos com os hermanos, seriam um sopro. Tite é uma, tênue e frágil, esperança. Felipão, Luxemburgo, Murici, Geninho etc, são a vanguarda do atraso. Um retrato alemão na parede. E, como dói!

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