Mauro Pandolfi
Uma armadilha sequestrou o futebol brasileiro: o passado,
idilicamente, romântico. Está encurralado nos conceitos, na gestão e na
análise. Assim como o país, é só um zumbi de um tempo glorioso. Sobrevive das
conquistas e da mitologia de outras épocas. Aqui é o lugar onde o atraso fez a
morada. Tudo em construção. Mas, a ruína é a paisagem mais vista. O 7 a 1 da
Alemanha foi o melhor retrato do futebol brasileiro: desorganizado,
ultrapassado, frágil, perdido, decadente. No entanto, a derrota transformou-se
num simples 'apagão'. Nada foi alterado. Só os nomes foram trocados. E, que
nomes, hein, foram os substitutos?
Bendito Pep Guardiola! Reinventou um futebol sonhado. Transformou
o tiki-taka em um jogo envolvente, mágico, vencedor. A bola é sempre nossa!
Este é o conceito de Guardiola. De posse dela, jogamos. Movimentação,
diminuição de espaços, abertura de espaços, chute precisos, passes e uma
intensa marcação ofensiva. Nunca vi um time defender como Barcelona. Tão sólido
que parece ser sempre ofensivo. O sistema de jogo é simples. Complexo é a
análise. É necessário novos conceitos e nomenclatura.
Um olhar que fuja da dualidade (aqui tudo vira opostos,
antagônicos, rivais) ataque e defesa. O futebol é mais do que isto. É um jogo
de espaço e de precioso tempo de bola. A bola é sempre nossa! É deles, quando
encontra-se com o véu de noiva.
Decifra-me ou te devoro? O enigma do futebol moderno é um pesadelo
para os técnicos brasileiros. Não conseguiram entender Guardiola. Fazem um jogo
de imitação. Aqui o moderno é farsesco. Uma clonagem defeituosa. Não há a
organização tática ousada do espanhol. Não há o conceito novo do Bayern. A
releitura é um equívoco. Não construíram nada e destruíram o antigo. Os times
brasileiros estão perdidos numa maçaroca tática. Perdeu-se o histórico estilo e
transformou o novo num pastiche.
Guardiola é um desafio. A menção de seu nome para dirigir a
seleção revoltou os técnicos tapuias. Como o país da bola importaria treinador?
Heresia! O futebol brasileiro foi moldado por estrangeiros. Não qualquer
treinador, como fizeram o Inter (com Jorge Fossati e Diego Aguirre) ou o
Palmeiras (com Ricardo Gareca). Não um simples repetidor de um sistema de jogo.
Mas, alguém conceitual, ousado, inovador. Dori Kruschner e Bélla Gutmann são
emblemáticos 'professores' que vieram de fora. Eles reinventaram, modernizam e
criaram uma escola de futebol. Sampaoli, Gallardo, Loco Bielsa, Angel Cappa, só
para ficarmos com os hermanos, seriam um sopro. Tite é uma, tênue e frágil, esperança.
Felipão, Luxemburgo, Murici, Geninho etc, são a vanguarda do atraso. Um retrato
alemão na parede. E, como
dói!
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