Mauro Pandolfi
O torcedor adora o clube, vive por ele. Vira sócio, torna-se um
consumidor de seus produtos ou da pirataria. Veste a camisa como se fosse um
fraque. Cada partida é um baile, uma festa, um evento. Não vai ao jogo em bando.
Leva o filho ou poucos amigos. Faz do filho o herdeiro da paixão. Ele troca o
pão pelo circo. Grita, pula pelo gol. Chora na derrota. Enfrenta uma depressão
na ausência de título. Porém, não abandona o time. O amor só aumenta. A
bandeira do clube é o símbolo maior. Às vezes, vira cortina, toalha ou lençol.
Nunca torce contra, raramente vaia. O rival é só um adversário que merece
zoação. É o bom!
O torcedor organizado tolera o clube. Ama a facção. O time é só um
detalhe. Briga pelas cores, pelos cantos, pelas vantagens recebidas dos
cartolas. Chantageia, ameaça nas derrotas. Andam em bandos, em quadrilhas.
Provocam brigas ou arruaças. São os donos do estádio. Tornam-se cães de briga.
As outras facções são inimigas, independente de clube. Aspira o poder. Tem
tanta força que de cabo eleitoral transforma-se em cartola. O torcedor
organizado afastou o torcedor comum pelo medo. É o mau!
O fanático não ama o clube. Acha-se dono, sente-se o dono,
comporta-se como o dono. Não tolera o outro, não convive com o outro. Para o
fanático o adversário não é rival. É inimigo. Como inimigo deve ser aniquilado.
O fanático cobra do time, xinga, vaia, briga por ele. Não admite uma crítica
externa. Ameaça, provoca, parte para a briga. Só assusta o torcedor comum. É o
feio!
Não sou tão maniqueísta assim. Não divido a humanidade em grupo ou
facções. Só brinquei com a intolerância. Ela é a alma gêmea da festa do futebol
num estádio. O bom, o mau e o feio é um faroeste de Sérgio Leone. Uma
obra-prima para assistir em um dia chuvoso.
Gostei da brincadeira, Maurão! Em muitos momentos, concordo contigo. Em outros, nem tanto. Mas o que realmente vale a pena é ler o seu texto. Sempre iluminado. Parabéns, mais uma vez!
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