Mauro Pandolfi
O gol é um latifúndio. Tem a imensidão da desgraça e a fúria da
esperança. É o ponto de encontro do riso e da dor. Vitória e derrota são o
mesmo lado da moeda, gêmeos no desespero.
É o lugar onde a humanidade tropeça. O herói é desconstruído. O
comum é tornado deus. O erro e o acerto andam de mãos dadas feito namorados. No
erro, o ídolo é imolado, decapitado, consumido em partes, devagar. O perna de
pau é devorado por inteiro, num ódio bíblico. Mitificam-se no acerto. O gol é a
tragédia do futebol.
Maldito. Perambula pelo espaço exíguo como se tivesse perdido no
infinito. Vive intensamente a emoção da glória e do fracasso. O goleiro não é
um jogador de futebol. Nem detalhe tático, nem profissão. É um angustiado
personagem de um teatro de grama e paixão. Solitário ator que tenta impedir o
desejo do jogo. A alegria do gol é o riso da morte de um goleiro.
O medo diante do pênalti. Estáticos. Olhares
trincados. Músculos retesados. Tensão. Há algo cínico no pênalti. Onze passos
de uma execução. Pelotão de fuzilamento. A rede não é de proteção. Ele corre.
Ele curva-se. Ele bate. Ele voa. A bola, traiçoeira, escapa, tocando nos dedos
e aninha-se na rede. Ele pula, soca o ar! Ele estatelado, soca o chão.
Os gritos se confundem! De alegria e fúria. A
cena pode ser outra. Mas, só é encantada quando o goleiro é do nosso time.
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