Chiko Kuneski
Revendo
o jogo da decisão do Mundial de Clubes de 1981, épico para os torcedores do
Flamengo e talvez até para outros, redescobri o prazer de sonhar acordado. Não
pelo título, mas pelo ilusionista futebol do começo da década de 80. Até mesmo
o fracasso na copa de 1982 é mais lembrando que os sucessos posteriores vindos
de esquemas bélicos.
Não
quisemos apenas levantar taças. A lógica era a mesma do ilusionismo. Do
encanto. Do aplauso pela magia do inusitado comandada por técnicos que
divertiam se divertindo. Coutinhos, Carpeggianis e Teles buscavam o espetáculo,
o divertimento, a contemplação do talento.
Os
esquemas eram balés com jogadores dignos dos malabaristas de Soleil. O futebol
brasileiro era circense, encantador, espetacular. Os dribles pareciam usar
espaços impossíveis. Às vezes apenas imaginados pelo driblador. Os movimentos
confundiam até os mais atentos torcedores.
Pior
para os marcadores. Não se marca sonhos. Os sonhos são voláteis. Os dribles
dessa geração do futebol brasileiro eram tão etéreos que apenas se
materializavam na bola abraçada pelas redes. Somente o gol enredava a magia
ilusionista início dos anos 80.
O
Flamengo conquistou o mundo desmistificando o pragmatismo do futebol jogado
pelos inventores do esporte bretão num três a zero mágico sobre o, então
imbatível, Liverpool da Inglaterra. Foi com um futebol ilusionista.
As
jogadas escondiam a bola. Passavam a bola. Driblavam até lógica da bola, mas os
ingleses não viam a bola. Somente as redes abraçavam a bola. As redes, como os
torcedores, adoram a ilusão da magia do futebol. Raul, Leandro, Marinho, Mozer,
Júnior, Andrade Adílio e Zico, além de Tita, Lico e Nunes, eram mais que
jogadores. Sonhavam o mesmo sonho: o espetáculo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário