domingo, 8 de março de 2015

O futebol do sonho

Chiko Kuneski

Revendo o jogo da decisão do Mundial de Clubes de 1981, épico para os torcedores do Flamengo e talvez até para outros, redescobri o prazer de sonhar acordado. Não pelo título, mas pelo ilusionista futebol do começo da década de 80. Até mesmo o fracasso na copa de 1982 é mais lembrando que os sucessos posteriores vindos de esquemas bélicos.

Não quisemos apenas levantar taças. A lógica era a mesma do ilusionismo. Do encanto. Do aplauso pela magia do inusitado comandada por técnicos que divertiam se divertindo. Coutinhos, Carpeggianis e Teles buscavam o espetáculo, o divertimento, a contemplação do talento.

Os esquemas eram balés com jogadores dignos dos malabaristas de Soleil. O futebol brasileiro era circense, encantador, espetacular. Os dribles pareciam usar espaços impossíveis. Às vezes apenas imaginados pelo driblador. Os movimentos confundiam até os mais atentos torcedores.

Pior para os marcadores. Não se marca sonhos. Os sonhos são voláteis. Os dribles dessa geração do futebol brasileiro eram tão etéreos que apenas se materializavam na bola abraçada pelas redes. Somente o gol enredava a magia ilusionista início dos anos 80.

O Flamengo conquistou o mundo desmistificando o pragmatismo do futebol jogado pelos inventores do esporte bretão num três a zero mágico sobre o, então imbatível, Liverpool da Inglaterra. Foi com um futebol ilusionista.


As jogadas escondiam a bola. Passavam a bola. Driblavam até lógica da bola, mas os ingleses não viam a bola. Somente as redes abraçavam a bola. As redes, como os torcedores, adoram a ilusão da magia do futebol. Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade Adílio e Zico, além de Tita, Lico e Nunes, eram mais que jogadores. Sonhavam o mesmo sonho: o espetáculo.

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