segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A soberba e o medo

 

Mauro Pandolfi


Desigual. De um lado, um time poderoso. Forte. Preciso. Líder. Dono do jogo. Tem o controle da partida. Acelera, cadencia, acelera. O ritmo é seu. Mortal no ataque. Goleadores pelos lado, pelo centro. Sempre trabalha os lances. Defesa intransponível. Marcação firme, segura, rápida. O adversário encurralado. Planejado. Arquitetado. Treinado. Soberano. De outro, uma equipe fraca. Confusa. Insegura. Medrosa. Sempre dominada. O gol é uma ilusão. Ocorre como um acidente. A defesa se esfarela no primeiro erro. Desmorona como um castelo de cartas. Lanterna. Perdedor. A vitória do primeiro é garantida? Não no teatro de grama e paixão. O impossível não existe com uma bola em campo. Davi e Golias explicam a derrota do poderoso? Ou é necessário buscar os mistério e os segredos do futebol? Soberba? O medo do fracasso é uma justificativa? Ou é só uma zebra? Este é um belo, fascinante dilema do futebol!
Niké ou Nice é a deusa da 'vitória' para os gregos. Representada por uma mulher alada. Para os romanos, era Victória. Nos confrontos decisivos, a deusa era glorificada. A derrota gerava um transtorno. Nos embates, os guerreiros passaram a temer a luta. Isto gerou o pavor de não vencer. O fracasso. É uma espécie de síndrome nos dias de hoje. Quanto mais perto da glória, mais próximo do revés.:'O medo de ser feliz', apavora, desequilibra, perturba.  O que era 'vitória' torna-se um drama, uma paixão que encanta o futebol.
A soberba. O mais perturbador pecado capital. A certeza. Ausência de dúvida. A cegueira que briga com o fato, a verdade, o inexplicável. O orgulho, a presunção, o menosprezo, a arrogância que derrota os melhores na luta. A falta de concentração (a moderna desculpa depois de um jogo perdido), a desatenção, a indolência são só justificativas.. O futebol tem os seus paradoxos. Cultua a soberba dos campeões, dos maiores, dos craques. Eleva a vaidade.  Transformam em  mitos e não toleram as perdas. Quantos times e jogadores são malditos, amaldiçoadas, sinônimos de derrotas. É a crueldade da bola.
Ligo para o meu amigo Rai Carlos, o vidente cego, para explicar-me as derrotas dos gigantes. "É bíblico. Davi e Golias não é um chavão. É uma metáfora, uma alegoria do homem contra o homem. Não é só a luta em si. É armadilha divina da superioridade. Não há nada maior e não há nada menor.  A vitória é do mais eficaz, persistente, lutador. O soberbo é um fraco. Sabe que será derrotado. Cria a imagem de superior para assustar o oponente. Só consegue quando o adversário entra amedrontado pela empáfia. O medo é o outro componente da derrota. Fica apavorada com a possibilidade de não vencer. Murcha, se esconde, até a primeira porrada. O futebol é assim, Mauro!", comenta. Antes de desligar, Raí dá a gargalhada e arremata:"Tudo amarelão, Mauro! Paúra, medo, se borram nas calças com a dificuldade. Tudo bunda mole!'. Rio e escuto;'Quando é contra o nosso time, é zebra! O imponderável é o melhor lado da bola. O mais inesquecível!", completa.

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