Mauro Pandolfi
Neymar é um dos grandes. Está no panteão (que palavra antiga, Mauro!) ao lado de Pelé e Mané. Junto com Zico e Romário. Na história, está há tempo. Os títulos, apenas, listam os conquistadores nos manuais, almanaques, na memória dos que declamam escalações como poesia. Parreira, Baldochi, Paulo Sérgio, Luisão e Lúcio são campeões do mundo. E daí? São só nomes obscuros que estiveram na hora e no lugar certo. Zico, Falcão, Sócrates, Ademir da Guia, Telê Santana e Reinaldo, sem os títulos, são mitos. Neymar se eternizou com a medalha de ouro. Foi o herói da conquista do imenso objeto do desejo
Não vi a decisão. Estava num aniversário. Em meio as conversas, desviava o olhar em busca da tevê. Longe, distante dos meus olhos míopes, acompanhava pelos gritos, resmungos dos outros convidados da festa. Assisti os outros jogos. Gostei muito a partir da Dinamarca. Enganei-me com Rogério Micale. Ele é mais que um pastiche moderno. Não sei se teve o dedo do Tite na redenção. Mas, tornou a equipe consistente, arrumada, ofensiva. As entradas de Luan e Wallace equilibraram as valências, os setores, a movimentação, o controle da bola. As jogadas não quebravam mais. Tinham começo, meio, fim. Renato Augusto tornou-se o referencial do jogo. O dono do meio. Neymar parecia no Barcelona. Flutuava, driblava, criava jogadas. Tinha parceria para os passes, abriu um corredor para Douglas Santos que aproveitou bem. A defesa era móvel, encurtou campo, trabalhou a bola, saiu para o jogo. Um time promissor. A base para o futuro. Tomara que Tite aproveite a geração dourada.
Sou fã de Neymar. Já escrevi isto. Gosto da irreverência, da 'doce' irresponsabilidade, do talento. Desde de 2014, há um fogueira pronta para queimá-lo. Zico, Pelé, Rivelino, Gérson sentiram a quentura do fogo. Neymar é o preferido das críticas ácidas da imprensa. É o mais cultuado jogador do pais. O mais emblemático. Carrega a frustração das derrotas em seus ombros. É vigiado por tantos olhares. Alguns esbarram num moralismo tacanho, típicas de fofocas de celebridades. Outros, enxergam um jogador que não amadurece, sem compromisso com a seleção, um boa vida. Discordo, concordando um pouco com o lento amadurecimento dele. No entanto, nas últimas partidas foi o líder, chamou o jogo, a responsabilidade, marcou os gols, colocou a medalha no peito e a imagem na galeria dos mitos, dos grandes, dos heróis, dos deuses. Exagero meu? Claro que é, viu Marinho Jesus! A vitória é um sopro para a seleção. Para o futebol no Brasil nada muda. Só um alento. Na camiseta não havia o símbolo da cbf. Pronto! A seleção sobrevive sem a entidade. Então, é o grande momento da transformação com a extinção das federações, da cbf e criação de uma liga.
Neymar riu, chorou, abraçou, gritou, xingou, se emocionou. É um jovem, um homem. Não é uma máquina de jogar e de resultado. Sente as dores, a pressão, a cobrança. A fortuna não torna ninguém indiferente a isto. Não cria couraça de proteção. Não é passar a mão na cabeça, nem mimar. É um entendimento que tento ter por ter sido um jovem que amava os rebeldes, os que desafinavam o coro dos contentes, que davam uma banana para os críticos, os que eram donos de seu destino. Sei que ninguém gosta de críticas. Muito menos os jornalistas. Faz parte da vida! A frase do velho Lobo não foi um desabafo. Nem rancor. Foi uma blague, um deboche. Zagalo olhava feroz para a câmera. Vermelho e raivoso. Neymar falou e riu. Não foi senilidade precoce. Foi festa. Ou como diz meu filho Pedro, 'zoeira'. Pego de Andre, meu outro filho, uma expressão: ' trolagem'. Como um velho prefiro o bom 'tirou um sarro'.
O futebol é uma religião. Tem templo e deuses. Não é monoteísta. É poli! Tem os deuses que amam a bola, os que protegem os craques, os que tem carinho com os bondes, os cruéis. Há espaço para todas as religiões. Sou devoto de São Portaluppi. Outros deuses são ovacionados, lembrados. Os fiéis pedem, imploram um gol, um título, um milagre para evitar o rebaixamento. Neymar lembrou Jesus. É uma 'humanização' do ídolo em busca do comum. Nem o 'ato de fé' acalmou Neymar. Ao invés de oferecer a outra face, ele preferiu o olho por olho, dente por dente.
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