Mauro Pandolfi
Não
assisto futebol feminino! Se este texto tivesse mais que os seis
leitores habituais, seria massacrado. Não sei se os seis terão
benevolência comigo. Estou pronto para as pancadas. Podem bater à
vontade. Menos na mão esquerda queimada. Dói muito! Mas, voltando à
bola. Há algo que não me agrada no futebol feminino. Machismo! Será?
Misoginia? Nunca! É a cultura que torna o jogo másculo? Eu detesto a
machonaria latina. Então, o que é? Não sei! Um pouco de tudo que escrevi? Se
for, ficarei frustrado com um conservadorismo que acho que não tenho.
Ou, a opção é sempre o Grêmio e os homens que brincam com a
bola desde menino? Talvez, a Marta me esclareça.
Faz
tempo. Muito tempo. Foi lá por 72. Verdes anos. De uma aurora juvenil
cercada de chumbo. O professor de Educação Física, não lembro se foi o
Belisca ou o Renatão, dividiu a turma. O professor das meninas estava
doente. O nosso resolveu juntar as turmas. Os meninos foram para a
arquibancada do ginásio. As meninas ficaram na quadra. Nada de vôlei ou
basquete. Futebol de salão! Quantos risos, quanta alegria nos tropeções,
nas quedas. Desajeitadas. Mal sabiam correr. A bola pesada chutada de
qualquer jeito. Moviam-se desesperadamente sem rumo. Andavam em bloco.
Conseguiram até marcar gols. Meia hora de comédia. Nunca mais o
professor repetiu a tentativa. Nas outras aulas, optou pelo vôlei. Meu
deus, que texto machista!
Deitado
no meu divã, descubro a origem do bloqueio. É aí que barrei as mulheres
no futebol! Vi o teipe de Brasil x China. Fiquei encantado com o jogo, a
postura, a vontade, o desejo, o lúdico. Nada romântico ou saudosista do
velho futebol brasileiro. Repete o mesmo imaginário. Um jogo menos
apressado. Um jeito veloz, rápido. Muita habilidade, destreza. Vadão é
um ótimo artesão de times. Inventou o carrossel caipira do Mogi Mirim de
Rivaldo. Há quase a dinâmica tática. E, ainda há Marta. Marta é o dez
sonhado pelos fanáticos do futebol antigo. Hábil, inteligente, bom
passe, chute preciso. Marta não é o antigo dez. É o moderno dez. Marta é
o mais próximo de Messi no mundo da bola.
Triste.
Muito triste. decepcionado. O time dos amigos de Neymar é o mesmo
retrato do tempo de Dunga. Medroso, confuso, soberbo. Um desastre
tático. Uma equipe que tem Gabigol, Gabriel Jesus, Luan, Neymar e cia
não pode ser ruim? Deve ser um espetáculo! É uma geração iluminada. O
que aconteceu? Estreia? Paúra? Vamos ver o que vai ocorrer. Pelo
primeiro jogo, a corrida do ouro será árdua. E, tem os portugueses,
alemães e nigerianos na disputa.
O
mundo binário está terminando. Os extremos não existem mais. São
reflexos de mundo passadista, de uma outra época. Esquerda e direita são
meras ficções políticas. Se entrelaçaram de tal forma, que não há mais
como separá-las. No comportamento, a fronteira masculino e feminino
diluiu. O mundo agora é líquido. Os gêneros provocam belas misturas.
Cada um pode ser o que quiser.; É a vida! Então, penso: o futebol pode
ser uma doce, encantada mistura? Eu quero a Marta no meu time! E têm
mais, a Marta é melhor que o Douglas, muito melhor!!!
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