Chiko Kuneski
Parece interessante
usar esse termo antigo para o futebol do século XXI. E título com pergunta é
quase uma declaração do autor da falta de convicção. Mas não se pode ser
convicto para sempre. Especialmente no futebol. O zero a zero pode ser
vibrante.
O torcedor exige o gol.
A euforia. O êxtase. Precisa quebrar o ritmo da vida com braços erguidos,
punhos cerrados, gritos estridentes vindo da alma de torcedor. O gol é o
aplauso triunfal da jogada bem feita. Perfeita. O gemido da bola na trave, da
bola na mão do goleiro é baixo, gutural. O grito do gol é de alerta da alegria
incontida.
Já o observador, que
pensa e analisa o jogo, mesmo visto pelo tubo, torce calado. Reclama mentalmente.
No máximo crispa os dedos da bola na trave, da bola na ponta da luva, da bola
que não quis casar com o “véu de noiva”. Mas o futebol é mais importante que um
lance. Que um momento eufórico. Que uma alegria de gol.
O prazer do teatro do gramado
de grama e paixão, como define Mauro Pandolfi, não precisa do ápice do gol. É o
jogo, o movimento, a estratégia, o deslocamento das peças de um xadrez
imaginário que o torna fantástico e apaixonante. É a qualidade que faz a
diferença dos zeros.
Um zero a zero pode ser
vazio, seco, indeglutível. Um zero a zero também pode ser um vinho amadurecido
que deixa um sabor inesquecível na garganta.
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