quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Um zero a zero é chocho?

Chiko Kuneski

Parece interessante usar esse termo antigo para o futebol do século XXI. E título com pergunta é quase uma declaração do autor da falta de convicção. Mas não se pode ser convicto para sempre. Especialmente no futebol. O zero a zero pode ser vibrante.

O torcedor exige o gol. A euforia. O êxtase. Precisa quebrar o ritmo da vida com braços erguidos, punhos cerrados, gritos estridentes vindo da alma de torcedor. O gol é o aplauso triunfal da jogada bem feita. Perfeita. O gemido da bola na trave, da bola na mão do goleiro é baixo, gutural. O grito do gol é de alerta da alegria incontida.

Já o observador, que pensa e analisa o jogo, mesmo visto pelo tubo, torce calado. Reclama mentalmente. No máximo crispa os dedos da bola na trave, da bola na ponta da luva, da bola que não quis casar com o “véu de noiva”. Mas o futebol é mais importante que um lance. Que um momento eufórico. Que uma alegria de gol.

O prazer do teatro do gramado de grama e paixão, como define Mauro Pandolfi, não precisa do ápice do gol. É o jogo, o movimento, a estratégia, o deslocamento das peças de um xadrez imaginário que o torna fantástico e apaixonante. É a qualidade que faz a diferença dos zeros.


Um zero a zero pode ser vazio, seco, indeglutível. Um zero a zero também pode ser um vinho amadurecido que deixa um sabor inesquecível na garganta. 

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