Mauro Pandolfi
Teve
um tempo que não havia problemática sem solucionática no futebol
brasileiro. Jogo encardido, difícil, sem saída. A bola, então, era
lançada no lado esquerdo do ataque. No vazio. Centésimos de segundos sem
ninguém. Só o gramado e a bola ocupavam a tela do televisor. Aí, ele
surgia brilhante, como se estivesse escondido numa nuvem, em disparada. O
zagueiro ficava para trás. Entrava na área e chutava reto. Às vezes, de
bico. A maioria, de peito de pé. Sempre forte, rasteiro, no canto.
Nunca, um toque suave que se transformava em golaço. Mas, sempre gol!
Com ele em campo, o placar não ficava em branco. Dario José dos
Santos era um avesso do avesso de Pelé. Era a negação do Rei. Não tinha
o talento, a genialidade. Mas, dividia o reino do gol. Também foi
coroado Rei. Fez quase mil gols. Lotava estádio. O nome gritado. Ídolo
insuperável. Mito! Rei Dadá, o peito de aço!
Dario,
quando jogava, parava o tempo no ar feito um beija-flor. Mas, a vida é
mais do que noventa minutos. E, o tempo, ah o tempo, não para!. Neste 4
de março, comemora 70 anos. Talvez, a data, passe despercebida. Dario
foi um dos melhores centroavantes da história do futebol brasileiro.
Tosco, inábil ("não faço três embaixadinhas", confessou certa vez).
Extremamente técnico. Preciso no jogo aéreo. Antecipava o beque.O
segredo, segundo Dario, era a parada. "Só três coisas param no ar:
Beija-flor, helicóptero e o Rei Dadá!", dizia. Numa época de jogo lento,
quase estático, Dario era veloz. Saía atrás. Chegava na frente. Um
corredor de cem metros em meio a maratonistas. Se fosse hoje, Dario
diria, certamente, 'que igual a ele, só Usain Bolt'.
Dario
e as frases. "Não venham com a problemática que que tenho a
solucionática". Carlos Drummond de Andrade analisou em sua coluna a
precisão da frase. O que era chacota, virou verdade. A que mais gosto é
esta; "Nunca aprendi a jogar futebol pois perdi muito tempo fazendo
gols". Faz falta a sua verve, a inteligência, a espirituosidade. Um
frasista estupendo balançaria a roseira deste futebol conservador e
quadrado. Dario não é um jogador deste tempo. Ficaria perdido na nova
estruturação do jogo, sem espaço. Ou, inventaria uma outra dinâmica?
Afinal, o gol ainda é o futebol. E, feio, é não fazer gol!
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