Mauro Pandolfi
Alguém que faz graça com a bola
no ar durante um jogo, dando tempo para os quatro defensores adversários
voltarem, é o jogador que as pessoas pensam ser ótimo. Eu digo que ele
deve ir para o circo.
Além do jogo articulado, Johan Cruyff foi um pensador inspirado
A
bola era preciosa para Cruyff. Não desperdiçava o lance. Segurava a
bola. Ia de um lado ao outro. Cabeça erguida que não distinguia o verde
do campo. Nunca olhava para o chão. O passe não era o lance preferido.
Ele gostava do movimento, do espaço vazio, do pensar, de brincar de
carrossel. 'A estatística mostra que cada jogador toca na bola três
minutos. Nos outros 87 minutos que se descobre o bom jogador", filosofou
quando técnico do Barcelona. Johan Cruyff foi o mais completo
futebolista da história. Revolucionou o jogo como craque, expandido o
campo. Como treinador inventou o Barcelona com táticas e estéticas
insuperáveis.
Além
de um teatro de grama e paixão, o futebol é um jogo matemático e
físico. Garrincha justificava o retângulo do campo. Usava todos os
espaços permitidos. O mínimo era um latifúndio. A loucura e a poesia no
drible. Pelé sempre soube que a menor distância entre o gol e a
felicidade era uma linha reta. Um aríete insuperável. Messi descobriu os
atalhos. Nunca se perde nos seus labirintos. O futebol é, mesmo, a
melhor invenção do homem.
Ninguém
foi tão matemático como Cruyff.Criou o campo redondo. Oi, girando! Oi,
girando! Solto, sem amarras. Livre para pensar a busca da vitória.
Parecia estar sempre em movimento. Contínuo e uniforme. Cruyff entendeu a
dinâmica do jogo. Tinha a intensidade do operário, a luta de um peão, a
inspiração de um gênio. Criava nas articulações um universo paralelo ao
jogo, tão belo e fatal, que o adversário não conseguia decifrar. Cruyff
foi um pensador, como da frase acima, um arquiteto ou um cineasta.
Único e eterno.
O
rei da brincadeira foi Pelé. O rei da 'confusão' foi Diego. Quem
driblou o João foi Mané. A trave era pequena para Yashin. O gol é
poético para Messi. A bravura tem a marca de Beckembauer. Mas, quem
deixou a brincadeira mais divertida, quem globalizou a magia, foi Johan
Cruyff. O magnífico camisa 14 laranja que virou saudade.
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