quinta-feira, 24 de março de 2016

O craque circular



Mauro Pandolfi


Alguém que faz graça com a bola no ar durante um jogo, dando tempo para os quatro defensores adversários voltarem, é o jogador que as pessoas pensam ser ótimo. Eu digo que ele deve ir para o circo.
                     Além do jogo articulado, Johan Cruyff foi um pensador inspirado

A bola era preciosa para Cruyff.  Não desperdiçava o lance. Segurava a bola. Ia de um lado ao outro. Cabeça erguida que não distinguia o verde do campo. Nunca olhava para o chão. O passe não era o lance preferido. Ele gostava do movimento, do espaço vazio, do pensar, de brincar de carrossel.  'A estatística mostra que cada jogador toca na bola três minutos. Nos outros 87 minutos que se descobre o bom jogador", filosofou quando técnico do Barcelona. Johan Cruyff foi o mais completo futebolista da história. Revolucionou o jogo como craque, expandido o campo. Como treinador inventou o Barcelona com táticas e estéticas insuperáveis.
Além de um teatro de grama e paixão, o futebol é um jogo matemático e físico. Garrincha justificava o retângulo do campo. Usava todos os espaços permitidos. O mínimo era um latifúndio. A loucura e a poesia no drible. Pelé sempre soube que a menor distância entre o gol e a felicidade era uma linha reta. Um aríete insuperável. Messi descobriu os atalhos. Nunca se perde nos seus labirintos. O futebol é, mesmo, a melhor invenção do homem.
Ninguém foi tão matemático como Cruyff.Criou o campo redondo. Oi, girando! Oi, girando! Solto, sem amarras. Livre para pensar a busca da vitória. Parecia estar sempre em movimento. Contínuo e uniforme. Cruyff entendeu a dinâmica do jogo. Tinha a intensidade do operário, a luta de um peão, a inspiração de um gênio. Criava nas articulações um universo paralelo ao jogo, tão belo e fatal, que o adversário não conseguia decifrar. Cruyff foi um pensador, como da frase acima, um arquiteto ou um cineasta. Único e eterno.
O rei da brincadeira foi Pelé. O rei da 'confusão' foi Diego. Quem driblou o João foi Mané. A trave era pequena para Yashin. O gol é poético para Messi. A bravura tem a marca de Beckembauer. Mas, quem deixou a brincadeira mais divertida, quem globalizou a magia, foi Johan Cruyff. O magnífico camisa 14 laranja que virou saudade.

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