segunda-feira, 14 de março de 2016

Domingo democrático


Mauro Pandolfi

Domingo dividido num tubo. De um lado, a multidão. De outro, a ausência. Um mundo, quase, sem ninguém. De um lado, a rua é do povo que protesta com a alegria de um carnaval. De outro, um jogo sem torcida, sem festa, com muitos gols. De um lado, gritos para a depuração do país. De outro, silêncio com um futebol que se submete ao mesmo. De lado, falsos protagonistas vaiados, expulsos. De outro, jovens, perdidos, que procuram um sonho através da bola. De um lado, na Beira-mar, a multidão brada o pedido do impeachment de Dilma Roussef. De outro, o técnico do Avaí, Raul Cabral, tenta se manter no cargo após a goleada de 4 para o Metropolitano. Domingo, vivi a metáfora e a realidade. O futebol é um teatro de grama e paixão onde tudo é contado. A vida é uma paixão que tenta superar o drama de um país à beira do caos.
O futebol perdeu o domingo para a rua.  A bola passeou despercebida, quase não foi vista. Em muitos caos, dividiu a tela com os protestos.  Estranho! A jogada pelo lado esquerdo. O corte da tela, escondia a bola, o jogador, a jogada.  Às vezes, atento a partida, procurava a bola na multidão que cantava. Também, perdi o boneco da cobra que parecia escapar para o campo. Domingo democrático. Vi camisas de clubes de futebol. Nenhuma superou a da Seleção Brasileira. Vista como na festa dos títulos mundiais. Desagradou  muitos, que questionavam a corrupção da cbf. Um exemplo de uma entidade que exerce os seus podres poderes há tempos.
"Ir num protesto contra a corrupção com a camisa da cbf é piada!", disse-me um não manifestante irritado. A observação é exagero. Uma tergiversação, uma desculpa, uma manipulação rasteira. A Seleção Brasileira é uma referência cultural do país. Não tem dono. É como fosse um símbolo. Ninguém grita cbf nos estádios. Ninguém vibra com um cartola. Se isto incomoda, gera constrangimento, é a hora de resgatar a Seleção Brasileira da cbf. É o momento de devolução ao povo brasileiro. Se a ela não serve para  cuidar da Seleção, não tem utilidade nenhuma. Que tal no próximo protesto, além da cabeça dos políticos safados, pedirmos o fim da cbf?

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