Chiko Kuneski
- Sai! Sai!
- Quem? Eu?
- É! Sai, porra!
- Mas a bola tá em
jogo...
- Então espera!
O estádio silencia. A
rede balança no embalo da bola do artilheiro. O técnico vibra. O jogador olha
para o banco de reservas e soca o ar.
A placa sobe. Ricardo
Oliveira soca o vazio. Soca a desilusão. Soca a cara imaginária do técnico que
milhões de brasileiros socam juntos no imaginário. Mas, como bom escudeiro dos
insensatos sem sonhos, resigna. Respira fundo e caminha para a linha lateral.
- Pronto, sai! Mas a
bola entrou.
Provavelmente Ricardo
Oliveira nunca teve a coragem de dizer isso para Dunga. E se disse ninguém
saberá. Seria nos vestiários. Nos secretos dos desabafos. Nos olhares
fulminantes. Na raiva do soco no ar. No chute que deve ter dado no banco, que a
televisão não mostrou, de despontamento.
A imagem da
substituição do atacante que acabou de fazer um gol na, até então, uma derrota
de dois a zero de uma seleção sem esquema, sem conceito, sem inteligência fora
de campo, jogando uma pelada de “casados contra solteiros”, sem comando dentro
de campo, é o retrato do Brasil.
Acertou...sai!
Nos transformamos, em
todos os setores, num país estranhamente estranho. O que acerta na luta da vida
sai. O que manda, errado, fica. Quem ousa discutir esse conceito é um golpista
que não entende as diretrizes que devem reger o grupo. O conceito de quem “utopisa”
que dirige.
Não adiante vibrar com um gol. Podemos até
empatar um jogo parecendo perdido. A essência do agir reinante é continuar
perdendo.
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