domingo, 27 de março de 2016

Quase ganhou. Quase perdeu.



Mauro Pandolfi

O tempo foi exíguo. Pouco mais de 10 minutos. Suficiente para entender a essência da insistência, do futebol, da vida. Sexta-feira, final da tarde, ao chegar em casa, liguei tevê. Equador perdia de 2 a 1 para o Paraguai.  Eram 36 minutos do segundo tempo. Vi um Equador que pressionava, lutava, sem muita lucidez. Bolas longas e aéreas. Nada de organização tática. Desespero! Paraguai, acuado, defendia com chutões. Um jogo feio, tosco, intenso. Aos 47, já no final, uma bola invade a área paraguaia. O cabeceio firme. O gol! Na saída de bola, o Equador recupera, parte para o último ataque. Um lance duvidoso. O atacante é derrubado na área. O árbitro nada marca e termina o jogo. O Equador quase ganhou. Quase perdeu. Empatou! Assim é o futebol. Igual a vida
O futebol é a minha fuga. Escapo do dia-a-dia pela bola. Um programa de rádio, de tevê, ou de preferência, uma partida. Esqueço os meus problemas, as minhas dores, os meus desencantos. Recupero a alegria com um bom jogo. Suspiro pela beleza de um passe, pela magia de um drible que vira gol. Me encanto pela organização do time. Vibro com as linhas se movimentando feito um balé, com suas marcações. Imagino triângulos, retângulos, quadrados, círculos como desenhados por Johan Cruyff. Eu, péssimo em matemática, vejo um jogo trigonométrico! 
O futebol é a minha viagem do tempo. Passado e futuro pertence ao presente. Sou um ancião, que deseja ver quem vem depois de Messi. Um menino que suspira por Pelé e Garrincha, visto por instante, por leituras, por youtube. Ou,por Zizinho, Fritz Walter, craques do período que eu era só uma ficção. Sou um catador de jogos antigos, perdidos. Vejo minutos, partidas inteiras e fico, cada vez, mais alucinado pelo futebol. 
O futebol é a minha loucura. Neste Grenal, que se transformou o país, me escondo numa arquibancada, num sofá, num boteco querendo bola (o jogo! Não a propina!). Me frustrei com os meus sonhos políticos. Meus desejos de uma vida melhor, de um país decente, de uma igualdade, de mais justiça social, foram só enganos trágicos meus. Alguns dos meu heróis morreram de overdose. Outros, podem perecer na cadeia. No ensaio sobre a cegueira, que são as redes sociais, procuro, com a minha visão de míope com degeneração macular, enxergar com os olhos de meu amigo Rai Carlos, o vidente cego. Segundo ele, 'a aventura da vida deve louca. Mas, o aventureiro não pode perder a lucidez'. O futebol é a minha lucidez.
O futebol é a minha paixão. Domingo a bola rola cedo em tantos idiomas, sotaques, tantas cores, amores. Meus 'times' estão em campo. Os ocasionais, os recentes, os momentâneos, o eterno. Vibro com lances, gols, com jogadas, com ilusionistas que transformam tudo em arte. Fico feliz ao ver como Messi descobre atalhos pelo campo. Me impressiono com a visão estratégica de Guardiola. Tantos outros me encantam. No entanto, nada mais me seduz do que um gol do Grêmio. Mas, ele não é o só o meu time. É o meu culto, a minha religião, a minha fé. E, ando tão herege nos últimos tempos. Vou parar por aqui. Há um videotape do Barcelona iluminando a tela. Está, também, começando documentários, telejornais, filmes, programas religiosos. Tantas maneiras de sobreviver a realidade. Escolhi o futebol.

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