segunda-feira, 7 de março de 2016

O fantasma do futebol



Mauro Pandolfi

"Pobre do povo que precisa de herói" 
                                        Bertolt Brecht

"Não temos mais craques. Só Neymar!". É o lamento que ecoa nos programas esportivos após a convocação ou jogo da seleção. Se o Brasil perdeu, vira uma tragédia, uma comoção, um desespero. Ignora-se os talentos em desfile pela Europa. Nenhum deles ganha o jogo sozinho. Estão agrupados em times organizados, sólidos e bem treinados. Fazem parte de uma estrutura tática que permite atuações eficientes. Mas, sem os brilharecos tão desejados por aqui. O futebol brasileiro foi moldado na individualidade. Uma junção de extraclasses amontoados no campo superou grandes equipes na base do 'talento'. Um lance, um drible, um gol de falta. E, títulos foram ganhos. Graças ao craque!
O que é um craque? Não gosto do termo. Raramente uso. É abstrato, vazio, indefinido. Craque é um fantasma de algo que existiu num imaginário belíssimo, reluzente, perfeito. Mas, só imaginário! Craque é o herói suspirado, desejado, saudado como salvador. Pode ser só uma farsa. Craque é o ser mítico tornado rei. O mago que inventa soluções. Craque é um simulacro dele mesmo. Um duplo que é homem e super homem. Ele nos redime, nos liberta. Craque é o Pelé! Uma imitação, um clone, um suspiro. Todos os craques são miméticos de Pelé. É o que 'todos' que lidam com o futebol suspiram. Um outro Pelé. Procuram em todos. Acham semelhança em alguns. Nunca um que supere Pelé. É identificado como craque. Jamais um Pelé.
Somos incapazes de analisar um time pelo coletivo, pelo seu jogo, atuações, estrutura. Sempre a partir de um indivíduo. O craque! Se o time não possui um jogador deste patamar, não é uma boa equipe. "Falta aquele que faz a diferença", diz qualquer comentarista de futebol no Brasil. 'É o conjunto", explicam quando encontram um ótimo time sem um craque. Alemanha, na Copa de 2014, é um exemplo. "Não tem nenhum jogador que pode se chamado de craque". Você pode escolher na imprensa um jornalista esportiva para ser o autor da frase. Imagina se tivesse! O placar seria um múltiplo de sete.  Somos um país que precisa de craque e de heróis. Eu concordo com Brecht! Triste país este nosso sítio! Opa!
Numa destas madrugadas insone, escutando rádio, escutei um velho jornalista palestrino bradando com exclamação: 'Não temos mais cobras!'. Sexta-feira da semana passada, eu vi uma jararaca. Reclamou que bateram no rabo ao invés da cabeça. Bom, isto não é comigo. É caso para o Ibama ou à Lava Jato.
                                

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