Mauro Pandolfi
"Pobre do povo que precisa de herói"
Bertolt Brecht
"Não
temos mais craques. Só Neymar!". É o lamento que ecoa nos programas
esportivos após a convocação ou jogo da seleção. Se o Brasil perdeu,
vira uma tragédia, uma comoção, um desespero. Ignora-se os talentos em
desfile pela Europa. Nenhum deles ganha o jogo sozinho. Estão agrupados
em times organizados, sólidos e bem treinados. Fazem parte de uma
estrutura tática que permite atuações eficientes. Mas, sem os
brilharecos tão desejados por aqui. O futebol brasileiro foi moldado na
individualidade. Uma junção de extraclasses amontoados no campo superou
grandes equipes na base do 'talento'. Um lance, um drible, um gol de
falta. E, títulos foram ganhos. Graças ao craque!
O
que é um craque? Não gosto do termo. Raramente uso. É abstrato, vazio,
indefinido. Craque é um fantasma de algo que existiu num imaginário
belíssimo, reluzente, perfeito. Mas, só imaginário! Craque é o herói
suspirado, desejado, saudado como salvador. Pode ser só uma farsa.
Craque é o ser mítico tornado rei. O mago que inventa soluções. Craque é
um simulacro dele mesmo. Um duplo que é homem e super homem. Ele nos
redime, nos liberta. Craque é o Pelé! Uma imitação, um clone, um
suspiro. Todos os craques são miméticos de Pelé. É o que 'todos' que
lidam com o futebol suspiram. Um outro Pelé. Procuram em todos. Acham
semelhança em alguns. Nunca um que supere Pelé. É identificado como
craque. Jamais um Pelé.
Somos
incapazes de analisar um time pelo coletivo, pelo seu jogo, atuações,
estrutura. Sempre a partir de um indivíduo. O craque! Se o time não
possui um jogador deste patamar, não é uma boa equipe. "Falta aquele que
faz a diferença", diz qualquer comentarista de futebol no Brasil. 'É o
conjunto", explicam quando encontram um ótimo time sem um craque.
Alemanha, na Copa de 2014, é um exemplo. "Não tem nenhum jogador que
pode se chamado de craque". Você pode escolher na imprensa um jornalista
esportiva para ser o autor da frase. Imagina se tivesse! O placar seria
um múltiplo de sete. Somos um país que precisa de craque e de heróis.
Eu concordo com Brecht! Triste país este nosso sítio! Opa!
Numa
destas madrugadas insone, escutando rádio, escutei um velho jornalista
palestrino bradando com exclamação: 'Não temos mais cobras!'.
Sexta-feira da semana passada, eu vi uma jararaca. Reclamou que bateram
no rabo ao invés da cabeça. Bom, isto não é comigo. É caso para o Ibama
ou à Lava Jato.
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