Chiko Kuneski
Paixão a primeira
vista. Tem quem acredite . Tem quem duvide. Tem quem desdenhe. Eu acredito.
Especialmente quando é sobre futebol. Apaixonei-me “encontradamente”
(perdidamente dá a ideia de não se saber o que se está fazendo) pela Copa do
Mundo em 1974. Minha primeira entendendo o mínimo da magia do futebol, uma
poção que bebi e nunca saiu da corrente sanguínea.
Vi a de 1970 nos ombros
do meu pai, Dionísio, que fez jus ao nome na festa nacional pelo tri. Mas tinha
apenas sete anos e mal começava a jogar botão. Futebol pra mim era apenas
festa. Como não ficar feliz se todos a sua volta estão eufóricos. Impossível
explicar isso para uma criança.
Minha iniciação credito
a Copa de 1974. Não poderia ter pedido um espetáculo mais cativante. Matava
aula, com a anuência da minha mãe, dona Maria Alice, para ver uma laranja em
preto e branco. Talvez por ter a alcunha de “mecânica”.
Uma máquina de
engrenagens móveis, que contrariava todo o padrão das peças estáticas. Moía os
esquemas. Flutuava, ora encaixada; ora solta. Seus dentes, corpos atléticos dos
jogadores, eram o objeto do jogo. A bola apenas os seguia, dócil, procurando o
aconchego do carinho dos pés dos craques.
A Seleção Holandesa de
1974, inventada pela concepção cubista da bola na genialidade do técnico Rinus
Michels, chegou a ser apelidada de “carrossel”. Alcunha proferida por
desavisados comentaristas. O carrossel roda sempre para o mesmo lado. A
genialidade daquela seleção rodava em tantas direções que mareava os
marcadores. Flutuava. Jogava no século XX e melhor do futebol do século XXI.
Flutuava como hoje
flutua a lembrança de um menino de 11 anos, que se apaixonou pela magia do
futebol levado pelos pés de um craque incomparável de nome estranho: “Croifi”
(Johann Cruyff) naqueles ouvidos. As primeiras chuteiras aladas do tubo da
televisão (ainda em preto e branco). Morreu o homem; ficou o seu significado.
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