quinta-feira, 24 de março de 2016

Eterna paixão

Chiko Kuneski

Paixão a primeira vista. Tem quem acredite . Tem quem duvide. Tem quem desdenhe. Eu acredito. Especialmente quando é sobre futebol. Apaixonei-me “encontradamente” (perdidamente dá a ideia de não se saber o que se está fazendo) pela Copa do Mundo em 1974. Minha primeira entendendo o mínimo da magia do futebol, uma poção que bebi e nunca saiu da corrente sanguínea.

Vi a de 1970 nos ombros do meu pai, Dionísio, que fez jus ao nome na festa nacional pelo tri. Mas tinha apenas sete anos e mal começava a jogar botão. Futebol pra mim era apenas festa. Como não ficar feliz se todos a sua volta estão eufóricos. Impossível explicar isso para uma criança.

Minha iniciação credito a Copa de 1974. Não poderia ter pedido um espetáculo mais cativante. Matava aula, com a anuência da minha mãe, dona Maria Alice, para ver uma laranja em preto e branco. Talvez por ter a alcunha de “mecânica”.

Uma máquina de engrenagens móveis, que contrariava todo o padrão das peças estáticas. Moía os esquemas. Flutuava, ora encaixada; ora solta. Seus dentes, corpos atléticos dos jogadores, eram o objeto do jogo. A bola apenas os seguia, dócil, procurando o aconchego do carinho dos pés dos craques.

A Seleção Holandesa de 1974, inventada pela concepção cubista da bola na genialidade do técnico Rinus Michels, chegou a ser apelidada de “carrossel”. Alcunha proferida por desavisados comentaristas. O carrossel roda sempre para o mesmo lado. A genialidade daquela seleção rodava em tantas direções que mareava os marcadores. Flutuava. Jogava no século XX e melhor do futebol do século XXI.


Flutuava como hoje flutua a lembrança de um menino de 11 anos, que se apaixonou pela magia do futebol levado pelos pés de um craque incomparável de nome estranho: “Croifi” (Johann Cruyff) naqueles ouvidos. As primeiras chuteiras aladas do tubo da televisão (ainda em preto e branco). Morreu o homem; ficou o seu significado.      

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