Mauro Pandolfi
Luan
é um meia insinuante, hábil, ligeiro. É marcado com muito rigor. Suas
pernas tem tatuagens feitas pelas travas das chuteiras dos defensores.
Não foge. Encara os 'zagueiros bandidos', ao gosto de alguns
comentaristas, e continua com os dribles. É o craque do Grêmio. Ele quem
encontra a solução, a saída para as vitórias, tão exíguas neste
momento. Na sexta-feira (26 de fevereiro), de manhã, Luan foi cercado
por 'bandidos'. Não os zagueiros. Mas, um bando vestido com camisetas
do Grêmio. Além de exigir raça, chamaram os jogadores de vagabundos,
jogaram pipocas em Luan. Injusto. Muito injusto. Sacanagem. Ele é quem
mais se expõe, cria, chuta a gol, é o artilheiro do time. Ao ler a
notícia, fiquei curioso em saber quem são estes 'torcedores'? Quem está
de folga numa manhã de sexta? Meninos, aposentados? Não! Um bando de
'mangolões' desocupados, vadios, pertencentes as facções organizadas.
No
início, eram uniformizadas. Amigos que se reuniam para ver o futebol.
Vestiam as camisetas dos times, sentavam próximos para torcer, cantar, se
divertir. Em todos os lugares era assim. Anônimas. Alguém criou nomes,
estatutos, uniformes. Popularizaram-se. Viraram referências,
identidades. Comercializaram produtos com os símbolos do clubes (sem
pagar direitos de imagem), ficaram íntimos dos cartolas, tornaram-se donos de
espaços nos estádios. Afastaram o torcedor comum. Tenho dúvida, se o
torcedor organizado é um apaixonado, um amante, uma espécie de amor
bandido. Ou, é só um bandido que aprisiona o amor do outro?
Viraram
milícias, bandos, máfias. Facções muito parecidas com o grupo que
chegou ao poder no país. Os torcedores rivais são inimigos. E, devem morrer!
Matam aqui e lá fora. Quase nada acontece. As punições são brandas. Logo
aliviadas por uma justiça e imprensa conivente. É só lembrar o caso
de Oruro, onde Kevin, 14 anos, foi assassinado, por 'torcedores' da
Gaviões e o apelo demagógico dos telejornais com os 'inocentes'
corinthianos presos na Bolívia. Até o governo brasileiro (parceiro?)
entrou em ação para libertá-los. Tempos depois, vários foram
identificados em outras confusões. Um foi morto, num conflito, por
drogas, com outras milícias. O futebol? É só um detalhe! A justificativa
de tudo. A sombra das chuteiras imortais é o melhor escudo para os
bandidos da bola.
As
facções organizadas construíram um poder nem tão paralelo nos clubes.
Ocuparam cargos diretivos (Botafogo é um exemplo!) e até a presidência
(Andrés Sanches dirigiu - ainda dirige, via laranja - o Corinthians).
Algumas máfias são tão poderosas, elegem parlamentares, e inventaram uma
fábrica de dinheiro que expandiram para as escolas de samba, para
lavagem desta fortuna . O futebol virou refém. Há como fugir das
organizadas? Uma revolução! Transformação total do futebol. Dentro e
fora. Fim da Cbf, das federações, das torcidas organizadas, criação de
ligas. Profissionalização dos clubes, superar a fase social, chegando
numa espécie de empresa, sem perder a paixão. Revolução não se faz com o
passado. É preciso ousar, buscar o 'novo'.
Luan
é um rapaz de sorte. 'Meigas' pipocas o atingiram. Poderia ser pedras
ou, algo pior, balas. Não as guloseimas. As perdidas que sempre
encontram alguém. Qual é o caminho de Luan? Talentoso, deverá ir para um
grande da Europa. Em quem jogarão as 'inofensivas' pipocas? Em Lincoln,
a nova joia tricolor? No televisor, ao ver Luan marcando um gol
decisivo? Ou, ficarão empanzinados de tanta pipoca comida, com raiva,
após o medalhão decadente, recebido com festa, substituto de Luan,
perder mais um gol, mais um jogo...?
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