sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Pelada imaginária

Chiko Kuneski

A grama nos olhos verdes cobria o descampado, camuflando o vermelho barro, na maioria das vezes, lamacento. O céu viva cinzento. A cova da covanca era a futura arena, mas ele não sabia o que significava arena. Talvez aquele partido que o pai falava mal.

Nas traves o véu de noiva impecável. Tão transparente que parecia não existir, até porque não existia, a não ser nos seus verdes olhos faiscantes. Não viam os eucaliptos das traves aramados com barbantes. Não tinha travas.

As solas dos pés não tinham travas. Nem de borracha, nem de metal, nem de sonhos. Os olhos verdes fixos miravam o retângulo de eucalipto como brancas traves dos jogos da televisão. Não importava a rede. Que rede? Era tão transparente que somente sua imaginação a via estufar no chute potente.

Tão certeiro e direto que acabava com o jogo. A bola passava pelo goleiro atordoado, pela armação de eucalipto, pela rede imaginária que via estufar feito véu de noiva. Mas todo sonho para na pior realidade.


A bola de gomos polígonos, no cru couro do branco e preto, murchava na farpa da cerca de arame. Os espinhos metálicos destruíam a alegria sonora do grito de gol. 

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