sábado, 20 de fevereiro de 2016

Jogos perdidos



Mauro Pandolfi

Há jogos que estão perdidos. Escondidos num velho almanaque, num arquivo de jornais antigos, na memória e, com sorte, no youtube.  O Guanal é um deles. Ypiranga e Atlântico é outro.  Partidas afetivas, emocionadas e lúdicas da aurora da minha vida. Era uma festa. Movimentavam uma cidade e duravam uma semana nas conversas com os amigos.  Dissecados, desconstruídos, eternizados. Eram clássicos de lotar estádios. Um fascínio dos estaduais. O ultimo movimento romântico da bola!
Quinta-feira vi um destes jogos. América x Bangu. O mais antigo do Rio. 111 anos de rivalidade. Tão velho que era chamado de Clássico Bisavô! Parei, olhei, viajei. Busquei Tadeu e Edu no 'Diabo Vermelho'. Esperava encontrar Paulo Borges e Parada nos 'Mulatinhos Rosados'. Tempos românticos em que os clubes tinham estes apelidos carinhosos. É, falta poesia na aridez moderna da bola.
O jogo foi em Mesquita, com menos de mil pessoas (990 para ser exato) no estádio.  Já foi um jogo para mais de trinta mil pessoas no Maracanã. Aliás, havia algo de Maracanã em Édson Passos:  O placar eletrônico era do antigo Mário Filho antes da reforma.  Fiquei esperando a frase: Adeg informa! Poxa! Tu é velho, Alvarenga!
E, foi um bom jogo. Algo de antigo. Tentativa de toque de bola. Ia e voltava. Lentamente! Quase nada de moderno. Dois times estanques, sem compactação das linhas,  nenhuma movimentação. Muito disputado. Virada de placar, alguns dribles e golaço de falta. Magnum, nome sugestivo para um 'matador', cobrou no ângulo.  Lá onde a coruja dorme. Fantástico! Cinco gols! 3 a 2 para o América. Dois históricos clubes que lutam contra o rebaixamento, o esquecimento, a sobrevivência e o fim. Deu saudade de um passado glorioso. 
Vitória por WO. Pontos perdidos por jogadores irregulares. Goleiro completando o time na linha. Zagueiro tornado goleiro. Campos disfarçados de estádios, interditados, vazios, esburacados, sem grama. Treinador expulso com um cone transformado em megafone gritando em cima da cabine de rádio.  Pessoas sentadas de muros, nas árvores ou das janelas das casas vendo o futebol. É a 'magia', o 'charme' dos estaduais. Um campeonato, que gosto, sendo assassinado pelos cartolas. Uma competição tornada anacrônica que vive os seus últimos momentos. Que pena! Ah, na quarta, o Corinthians jogou  no deserto. Um campo pequeno, ruim, com apagão, pouco público, quase uma várzea.  Paulista? Não! Libertadores! Soy loco por ti, América! Mas, somos, mesmo, a vanguarda do atraso.

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