Mauro Pandolfi
Pênalti
é o gol anunciado. O narrador já prepara a garganta. O
torcedor fica em pé. Ou, ajoelhado, rezando por um milagre. Onze
passos e nenhum segredo. Chute forte no canto, é gol! Há a cavadinha.
Delírio poético, sádico, cruel. O pênalti é um fuzilamento. A rede não é
de proteção. O matador está pronto. Caminha, corre, chuta...., chuta?
Gol! Não um gol comum. Uma linha de passe. O toque curto para o lado.
Goleiro desaba, torto, sem jeito. O parceiro entra sozinho, toca macio e
a bola, suave, dorme na rede. Que pênalti foi este Messi? Poesia
ou cinismo? Arte ou maldade? Sublime ou humilhação? Ou, o teatro de
grama e paixão é mais burlesco do que épico?.
Um
lance repetido. Não sei se como farsa. Johan Cruyff e Jesper Olsen
fizeram isto. Lá longe, muito longe, no século passado. Cruyff toca para
o lado. O goleiro atordoado corre. Olsen devolve para o astro. Ele, com
o gol vazio, marca. Mais um numa goleada do Ajax. Cruyff brincou com a
seriedade, o conservadorismo, o eterno mesmo do jogo. Tirou a fatalidade
do lance. Revelou que o futebol é mesmo uma brincadeira de meninos que
curtem a vida adoidado.
Lionel
Messi é um poeta que escreve versos com a bola. Líricos, abusados,
épicos. Ora, rima com Neymar. Outras, explode em um monólogo
insuperável. Neste domingo, reinventou o pênalti. Olhou o goleiro.
Parou! .Transformou o verso comum, burocrático num hai-kai: A bola
flutua mansa. Tocada, bailada, rebola. Na rede feito dança.
Messi é gênio!!!
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