segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Pegadinha do Messi



Mauro Pandolfi

Pênalti é o gol anunciado. O narrador já prepara a garganta. O torcedor fica em pé.  Ou, ajoelhado, rezando por um milagre.  Onze passos e nenhum segredo. Chute forte no canto, é gol! Há a cavadinha. Delírio poético, sádico, cruel. O pênalti é um fuzilamento. A rede não é de proteção.  O matador está  pronto. Caminha, corre, chuta...., chuta? Gol! Não um gol comum.  Uma linha de passe. O toque curto para o lado. Goleiro desaba, torto, sem jeito. O parceiro entra sozinho, toca macio e a bola, suave, dorme na rede. Que pênalti foi este Messi? Poesia ou cinismo? Arte ou maldade? Sublime ou humilhação?  Ou, o teatro de grama e paixão é mais burlesco do que épico?.
Um lance repetido. Não sei se como farsa. Johan Cruyff e Jesper Olsen fizeram isto. Lá longe, muito longe, no século passado. Cruyff toca para o lado. O goleiro atordoado corre. Olsen devolve para o astro. Ele, com o gol vazio, marca. Mais um numa goleada do Ajax. Cruyff brincou com a seriedade, o conservadorismo, o eterno mesmo do jogo. Tirou a fatalidade do lance. Revelou que o futebol é mesmo uma brincadeira de meninos que curtem a vida adoidado.
Lionel Messi é um poeta que escreve versos com a bola. Líricos, abusados, épicos. Ora, rima com Neymar. Outras, explode em um monólogo insuperável. Neste domingo, reinventou o pênalti. Olhou o goleiro. Parou! .Transformou o verso comum, burocrático num hai-kai: A bola flutua mansa. Tocada, bailada, rebola. Na rede feito dança.

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