terça-feira, 29 de setembro de 2015

Só um sonho!


Mauro Pandolfi

Quatro clubes na Série A. O milagre de Santa Catarina. 2015 um ano que nunca terminará. Um sonho! A geografia mudando o futebol brasileiro. Amigos e parentes de outros estados pediam-me explicações para este feito extraordinário. Falei em profissionalismo, organização, um campeonato estadual competitivo, a estrutura econômica das cidades catarinenses. Ouviam-me atentamente. E, perguntavam: 'É tudo isto, mesmo?' Eu respondia: 'Sim! Vem mais por aí! Tem o Criciúma, que voltará, o Inter de Lages e o Metropolitano. Seremos sete, não apenas quatro'. Não era soberba! Era orgulho, felicidade. Mas...
2015 chegou! A bola começou a correr! Logo notei que não era bem assim! Um campeonato estadual medíocre, desorganizado, deficitário, bagunçado e um campeão no tapetão. Problemas com registros de jogadores. Clubes perderam pontos importantes. O título foi 'um brinde' no tapetão. E sumiram com o troféu na maior cara de pau.  Estádios que lembravam um Coliseu (sem nenhuma glória antiga como o romano) decadente, caindo aos pedaços. Raras partidas de boa qualidade. Era um aviso. Eu não percebi!
Um domingo de maio. A façanha histórica começa. Jogos após jogos, os problemas se revelaram. A boa organização era um engano. Continuamos tão desorganizados como sempre. Quase amadores. Os times montados como uma aposta. Velhos medalhões decadentes a procura de uma aposentadoria confortável. Carlos Alberto, Richarlyson, André Lima, Fabrício deram pouco retorno. Eternos reservas nos grandes clubes que não se importaram em sentar no banco em Santa Catarina. Elias, William Barbio, Celsinho, Ricardo Bueno, Claudinei raramente jogaram. Quase uma centena de jogadores foram contratados pelos nossos times. Ocuparam vagas de jovens jogadores promissores que se tornarão só promessas.  Que pena para estes guris!
E, os treinadores, hein? Tivemos de todas as matizes. Dos jovens aos velhos enganadores. Dos trabalhadores aos bons de bico. Grilos falantes que nada diziam. Contratações e trocas equivocadas deixaram os quatro clubes a beira do rebaixamento. O Avaí foi o mais lúcido. Espantou a preguiça de Geninho pelo pragmático Gilson Kleina. O Joinville foi trágico nas suas escolhas. Sacou o ótimo Hémerson Maria pelo perdido Adilson Batista. Ao perceber o erro, apostou num discípulo de Luxemburgo. PC Gusmão foi de um futuro brilhante a um passado sem glória.
Já a Chapecoense trocou o convencional de Vinícius Eutrópio pelo 'trabalhador' Guto Ferreira. Ele vai repetindo a sua trajetória de Florianópolis. Tomara que, pelo menos, tenha gostado das churrascarias de Chapecó. Mas, ninguém foi tão equivocado como o Figueirense. Argel Fucks abandonou os seus 'soldadinhos' em busca de uma 'tropa de elite'. Errou feio!  Argel Fucks, ainda, é só um sargento. Falta muito para ser um capitão Nascimento. O Furacão caiu na lábia, na fala mansa de um esperto da bola. Renê Simões não foi o comandante esperado. É pouco mais que um lírico, para ser suave. Hudson Coutinho tenta o milagre. Será possível? O impossível não existe. Basta o Vasco, Goiás, Coritiba serem mais incompetentes que os nosso clubes. E, eles estão trabalhando com afinco para isto. Força, clubes!
Ser campeão brasileiro é um delírio. Não temos força. Não somos ousados. Somos pouco mais que médios. Lutamos pela segunda página da tabela. Quinto ou sexto é uma façanha. Somos grandes na B. Há títulos lá e também na C. Há uma Copa do Brasil, um vice e algumas conquistas nas divisões de base. Porém, continuamos 'um elevador'. Subimos e descemos com a mesma velocidade. Não é demérito. É a nossa realidade. Os clubes temem um enfrentamento e rompimento com a estrutura anacrônica que controla o futebol catarinense e brasileiro. Um rebeldia bendita. Enquanto isto, vamos brincando de ioiô.
Eu me enganei na explicação. Foi o acaso, o acidente, os encontros, os desencontros, a incompetência dos outros. Também, a virtude de saber explorar o momento e a boa sorte. A classificação dos quatro clubes na Série A não foi por uma gestão moderna eficiente, organizada. Foi aleatória. Um mapa astral favorável e um descuido dos deuses da bola. A queda, se rebaixarem todos, é consequência de uma gestão medíocre, ultrapassada, amadora dos clubes e, principalmente, da federação.
Torço pela sobrevivência de pelo menos dois. É um número mais real para a importância do nosso futebol. O meu receio, bem pessimista, é verdade, é um tsunami para baixo, caso os quatro sejam rebaixados. Um facada mortal no orgulho.  A depressão poderá levar ao desespero. Aí, sair da A, passar pela B, chegar na C e vibrar com uma vaguinha na D. Já peguei o rosário, convidei os amigos e começo o terço: 'Em nome do pai....'

Um comentário:

  1. Mauro, o RW aproveitou a situação dos times daqui para cutucar o Noveleto. Ele também deve estar decepcionado...
    Abraço.

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