Mauro Pandolfi
Quatro
clubes na Série A. O milagre de Santa Catarina. 2015 um ano que nunca
terminará. Um sonho! A geografia mudando o futebol brasileiro. Amigos e
parentes de outros estados pediam-me explicações para este feito
extraordinário. Falei em profissionalismo, organização, um campeonato
estadual competitivo, a estrutura econômica das cidades catarinenses.
Ouviam-me atentamente. E, perguntavam: 'É tudo isto, mesmo?' Eu
respondia: 'Sim! Vem mais por aí! Tem o Criciúma, que voltará, o Inter de
Lages e o Metropolitano. Seremos sete, não apenas quatro'. Não era
soberba! Era orgulho, felicidade. Mas...
2015
chegou! A bola começou a correr! Logo notei que não era bem assim! Um
campeonato estadual medíocre, desorganizado, deficitário, bagunçado e um
campeão no tapetão. Problemas com registros de jogadores. Clubes
perderam pontos importantes. O título foi 'um brinde' no tapetão. E sumiram com o troféu na maior cara de pau. Estádios que
lembravam um Coliseu (sem nenhuma glória antiga como o romano)
decadente, caindo aos pedaços. Raras partidas de boa qualidade. Era um
aviso. Eu não percebi!
Um
domingo de maio. A façanha histórica começa. Jogos após jogos, os
problemas se revelaram. A boa organização era um engano. Continuamos tão
desorganizados como sempre. Quase amadores. Os times montados como uma
aposta. Velhos medalhões decadentes a procura de uma aposentadoria
confortável. Carlos Alberto, Richarlyson, André Lima, Fabrício deram
pouco retorno. Eternos reservas nos grandes clubes que não se importaram
em sentar no banco em Santa Catarina. Elias, William Barbio, Celsinho,
Ricardo Bueno, Claudinei raramente jogaram. Quase uma centena de
jogadores foram contratados pelos nossos times. Ocuparam vagas de jovens
jogadores promissores que se tornarão só promessas. Que pena para
estes guris!
E,
os treinadores, hein? Tivemos de todas as matizes. Dos jovens aos
velhos enganadores. Dos trabalhadores aos bons de bico. Grilos falantes
que nada diziam. Contratações e trocas equivocadas deixaram os quatro clubes a beira do
rebaixamento. O Avaí foi o mais lúcido. Espantou a preguiça de Geninho
pelo pragmático Gilson Kleina. O Joinville foi trágico nas suas escolhas.
Sacou o ótimo Hémerson Maria pelo perdido Adilson Batista. Ao perceber o
erro, apostou num discípulo de Luxemburgo. PC Gusmão foi de um futuro
brilhante a um passado sem glória.
Já a Chapecoense trocou o convencional de Vinícius Eutrópio pelo
'trabalhador' Guto Ferreira. Ele vai repetindo a sua trajetória de
Florianópolis. Tomara que, pelo menos, tenha gostado das churrascarias de Chapecó.
Mas, ninguém foi tão equivocado como o Figueirense. Argel Fucks
abandonou os seus 'soldadinhos' em busca de uma 'tropa de elite'. Errou
feio! Argel Fucks, ainda, é só um sargento. Falta muito para ser um capitão
Nascimento. O Furacão caiu na lábia, na fala mansa de um esperto da
bola. Renê Simões não foi o comandante esperado. É pouco mais que um
lírico, para ser suave. Hudson Coutinho tenta o milagre. Será possível? O
impossível não existe. Basta o Vasco, Goiás, Coritiba serem mais
incompetentes que os nosso clubes. E, eles estão trabalhando com afinco
para isto. Força, clubes!
Ser
campeão brasileiro é um delírio. Não temos força. Não somos ousados.
Somos pouco mais que médios. Lutamos pela segunda página da tabela.
Quinto ou sexto é uma façanha. Somos grandes na B. Há títulos lá e
também na C. Há uma Copa do Brasil, um vice e algumas conquistas nas
divisões de base. Porém, continuamos 'um elevador'. Subimos e descemos
com a mesma velocidade. Não é demérito. É a nossa realidade. Os clubes
temem um enfrentamento e rompimento com a estrutura anacrônica que
controla o futebol catarinense e brasileiro. Um rebeldia bendita.
Enquanto isto, vamos brincando de ioiô.
Eu
me enganei na explicação. Foi o acaso, o acidente, os encontros, os
desencontros, a incompetência dos outros. Também, a virtude de saber
explorar o momento e a boa sorte. A classificação dos quatro clubes na
Série A não foi
por uma gestão moderna eficiente, organizada. Foi aleatória. Um mapa
astral favorável e um descuido dos deuses da bola. A queda, se
rebaixarem todos, é consequência de uma gestão
medíocre, ultrapassada, amadora dos clubes e, principalmente, da
federação.
Torço
pela sobrevivência de pelo menos dois. É um número mais real para a
importância do nosso futebol. O meu receio, bem pessimista, é verdade, é
um tsunami para
baixo, caso os quatro sejam rebaixados. Um facada mortal no orgulho. A
depressão poderá levar ao desespero. Aí, sair da A, passar pela B,
chegar na C e vibrar com uma vaguinha
na D. Já peguei o rosário, convidei os amigos e começo o terço: 'Em nome
do pai....'
Mauro, o RW aproveitou a situação dos times daqui para cutucar o Noveleto. Ele também deve estar decepcionado...
ResponderExcluirAbraço.