terça-feira, 15 de setembro de 2015

A ilusão da bola

Chiko Kuneski

Se puder comprar o olho humano a algo vivo seria com uma bola de futebol. Mas o olho é mais rápido, mais sagaz, mais intenso. Dos cinco sentidos é o que chega antes. Que decodifica emoções. É esférico como a bola. Rola como a bola. Muda de direção como a bola. Às vezes, pela bola.

São esses olhares que seguem a bola num jogo de futebol, tentando decodificar seus mágicos movimentos, suas trajetórias, seus logros no conceito espacial. Mas cada olhar da mesma bola é uma visão diferente dela. O jogador tem o olhar dominante. O técnico o olhar perspicaz. O torcedor o olhar encantado. Os juízes o olhar aflito.

A velocidade da bola é maior que o flash do olhar arbitral. A bola é uma ilusionista de juízes e auxiliares (eu ainda prefiro bandeirinhas) que brinca de enganar o mais fixo e atento olhar dos “homens de preto”. A bola é como o mágico do circo que mostra escondendo; esconde mostrando. Ludibria com inventivos percursos não planejados, rotações inusitadas, translações desconcertantes, até para o veloz olhar humano.

Como diz o poeta: a bola “tem o dom de iludir”. Matreira, parece divertir-se com as ilusões ópticas que cria. Excita, ínsita, instiga a busca do olhar que desvende a magia pelo puro prazer de saber-se admirada. É uma criança brincalhona que traquina com a seriedade dos árbitros.


Esses ficam atônitos, enganados, perdidos num espaço lúdico demais para o olhar ranzinzo e tão atemporal como as pesadas armações dos óculos dos míopes. Cada vez mais a bola os ilude, mas, turrões, insistem em não ver que precisam começar a usar outras lentes. 

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